quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Tragos em abraços pálidos


Alice não quer mais romances de bar. Nem receber beijos mofados de cartas escritas durante as tardes. Alice não pensa em se casar. Antes do filho nascer pretende formar-se. Habitualmente vive sua vida entre os desgarros da manhã com a sinfonia da noite. Na escola era conhecida como a menina que escondia livros. Anteriormente aos descasos do coração, sempre tinha a prática de empunhar livros pelos caminhos. Ainda menina corria rapidamente as duas quadras que separavam a escola de sua casa. Caminhava diretamente para seu quarto. Abria as cortinas para o sol primaveril adentrar e sentava-se no chão. Certa vez foi surpreendida pelo histérico barulho dos passos de sua mãe nas escadas. Mais rápida que o piscar dos seus olhinhos brilhantes, empurrou o livro para baixo da cama. A presença da mãe não desconcentrou a lépida Alice. Sua imaginação pairava no episódio do menino faminto perambulante pelas ruas de Roma. Genaro usava uma camisa vermelha pálida, calça tergal preta e sapatos desbotados. Usava uma das mãos para pedir algumas moedas para os turistas da Praça de São Pedro e na outra levava uma pequena rosa amassada. Em cada pétala o menino escrevia um pequeno poema de três palavras. O primeiro foi: buscou o amor ontem. Á partir do momento em que ficou a sós com a história de Genaro, disparou pelo tempo. A mania de esconder livros embaixo da cama, começou neste dia. Depois daquela primavera nunca mais permitou aos outros verem onde ela escondia o seus pensamentos . As vezes baixinho murmurava, livro de capa gelo, livro de capa gelo. Agora rodeada de insanidades e moléstias da vida pertecente á sociedade, preocupa-se com a convencionalidade da modernidade. Ainda procura encontrar motivos mais emocionais para fugir da visão pessimista do mundo, principalmente nos encontros. Alice não quer mais perder um minuto ao lado de gente sem conteúdo. Alice prefere deitar e ler um romance á contentar-se com a obscuridade e polivalência dos sentimentos vestidos de afetos. Os pensamentos despertados com os enredos das histórias aparecem também em outras páginas. Alforria ganhou no dia em que conseguiu pegar seu primeiro livro e esconder sob a cama. Ainda hoje quando desfilava seus sentidos sobre as linhas de mais algum livro, lembrou da figura clássica do menino Genaro e suas pétalas poéticas. Olhou pela janela e viu a figura de várias crianças brincando. Seus olhos fizeram apostas de quem teria o privilégio de esconder livros e descobrir um novo mundo. Sem muito a saber, viu uma mãe pegar sua filha pela mão. O instante pairou sobre várias frestas da vida. E ali confirmou-se quem teria a chance de ser uma nova Alice no futuro. Despertando sobre a tarde também o gosto de saudade das falas da sua mãe entre as suas leituras e estripulias imaginárias, além das páginas literárias.

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