quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Noites depois



O abajur acesso não impedia a luz de transcender amarelamente tímida e atingir seu rosto mais usual de amostras reais da felicidade. Condições pairavam sobre conversas distraídas de tantas tardes enciumadas em não prolongar relatos da vida que chegava muitas vezes sobre notícias de jornal. Folhava mais algumas páginas do livro que precisara ler para argumentar contra seus pensamentos menos eloqüentes. O relógio insistia em lembrar, que o canto apressado do galo, anunciava mais um dia que despertava com o sol estendido para a avenida. Não sentia mais vontade de dormir, não sentia o peso sonolento do seu corpo. Queria amordaçar os desejos mais insanos e prender atenção no coloquialismo dos anseios diários. Colocou-se de pé, firmemente os prendeu sobre o piso gélido e assim pode sentir o frescor da alma, que esvaziava o caos sentimental de estar entretida tanto tempo entre um lençol umedecido nesta madrugada nada fria. Caminhou em direção a cozinha, precisava tomar algo, talvez uma água, apenas para não maltratar a sede. O deslumbre com cenas sólidas de vinhos tintos e rosas amarguradas de saudade, recortavam um vitral que emoldurava a cena despertada em canto diferente ao canto do galo esquizofrênico da madrugada. Enxergava-se prendida sobre um garboso vestido branco de tecido fino, que não exigia resposta diferente além do que os olhos presenciavam e os pensamentos queriam. Luiza escutou seu nome chamado três ou quatro vezes, não entendia como poderia ser reconhecida, apenas por vestir um belo vestido. Os olhares vazivos, os comentários lúcidos, e toda a menção ferrenha dos que a viam. Tudo novo, diferente e vazio de tranqüilidade.
A inquietação alheia sempre a perturbou, mesmo inconscientemente preferiu atitudes mais discretas em relações com a sociedade. Perdida entre o copo de água e sua taça de vinho tinto, virou-se para o lado esquerdo e pode constatar as sete horas e vinte e dois minutos, três minutos antes do ensurdecedor despertador anunciar o começo de mais um dia. Ao caminhar entre pessoas tão diferentes e caóticas pelas avenidas centrais da cidade pode revelar para seus sentimentos doces e devaneios íntimos que os versos - "Pra te esquecer, Luiza, eu sou apenas um pobre amador apaixonado, um aprendiz do teu amor", foram pretextos nada sóbrios de resquícios de realidade.
Ainda pensa em comprar um garboso vestido, confessa não ser influência do sonho da madrugada passada.

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