quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Impróprias lembranças
Maria Clara sempre que podia passava na panificadora na volta do trabalho e comprava pães franceses para não precisar sair na manhã seguinte para comprá-los. Costumava chegar do trabalho por volta do noticiário das 19 horas, vez em quando perdia as noticias por esbarrar em conversas descontraídas com as vizinhas e conhecidos de bairro.Ao adentrar sua confortável casa na Alameda dos Pinheiros primeiramente jogava sua bolsa sobre o sofá e ligava o televisor no canal em que o apresentador era mais agradável que a noticia. Aumentava o volume, permitindo-se assim lavar o rosto tranquilamente e não perder nenhuma matéria do noticiário. Entre uma noticia e outra conseguia preparar o jantar e programar o próximo dia.Tudo acontecia em perfeita sintonia, sabia escolher suas renuncias e preparar o famigerado espírito combalido de tanto sofrer nos últimos anos. Quando sem querer escutou em uma propaganda uma frase que falava sobre o futuro e do futuro quis fugir, mas não encontrou saída, foi levada pelas lembranças para o mundo em que foi feliz. Neste tempo suas lembranças eram limpas e casuais, nada parecia lhe tirar o sorriso estampado em todas as manhãs. Mas diferente daquele tempo parecia querer enfrentar a dor, que nunca ousou enfrentar.Forte demais não permitiu as amarguras estragarem seus desejos, jurava a felicidade ser sua companheira, mesmo que algo acontecesse e a fizesse por momentos pensar de forma diferente. Relutou sobre tantas transformações de pensamentos, pessoas e atitudes insanas.
A perturbação sempre se desprendia do suposto jeito de sentir o mundo.Sentada na mesa enquanto jantava voltou seu olhar para o calendário e começou a contar quantos dias iria precisar para poder estar distante de toda aquela ameaça de bem estar.Sem muito forçar descobriu que o homem com quem um dia trocou palavras de amor estava casado e distante da cidade onde morava. Ao mesmo tempo sentia que ficar presa na vontade sentimental não era uma maneira mais eficaz de ambicionar a felicidade.
A partir daquele instante Maria Clara descobriu que o pudor sempre é esquecido em nome das boas maneiras, mas nunca é deixado de lado quando é exigido em pensamentos.O mundo começava diferente para ela, durante suas jornadas de trabalho e convívio com as pessoas do seu circulo de amizades era tudo correto, talvez fosse uma forma de esconder dos seus sentimentos a carência de nunca conseguir viver o amor novamente. Mas sempre que entrava na sua casa na Alameda dos Pinheiros voltava a sonhar com os embalos daqueles sentimentos e fazia de tudo para voltar a recordar tudo que um dia a presença trouxe em sonho.
Promete uma tarde dizer tudo o que sente sem precisar assinar contrato, até lá o pudor continuará a ser exclusividade dos pensamentos.
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