quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Cachorro sem nome


O cheiro de jasmim invadiu a porta, trazendo saudade das tardes chuvosas de verão. As brincadeiras de roda repletas de expressões infantis, letras desenhadas nas árvores, violão desafinado e músicas cantadas no embalo da rede, são lembranças insistentes do passado. Tempos que deixaram um legado além da saudade. A visão é nítida do jardim, a janela permite olhar, sem precisar pedir desculpa ou permissão em imaginar legalmente as paisagens, onde brincou. Certa manhã foi pega de surpresa pelo cachorrinho aparentemente abandonado que aparecerá no sítio da avó. Os pelos marrons e ralos, denunciavam suas costelas salientes. Foi até a cozinha e encheu um pote de leite. O trouxe com as mãos pálidas de medo da reação da avó ao saber que pegou leite para alimentar um cão abandonado. O mamífero praticamente engoliu tudo de uma única vez, constatando a fome. Antes de pensar em um nome para chama-lo, sua avó apareceu. As mãos agora tremulas faziam conjunto com a boca que deletreava um pedido infantil de desculpas. D.Clara com aquele olhar carismático de avós, disse: Minha filha, que cachorro mais lindo. Assustada com a reação da avó, pensou em contar a história. Mas não conseguiu. Naquele momento esperava apenas poder levar o cachorro para sua casa. D.Clara astutamente falou sobre a boa ação da neta em levar leite ao pobre animal com fome. Sem entender muito, apenas sorriu discretamente. Várias vezes enquanto lia fabulas escritas por seu avô, corria os pés sobre os pelos macios do saudoso cachorro.A saudade daquelas cenas proporcionaram um encontro com passado natural e belo em acontecer. Antes mesmo de voltar a sentar-se, olhou para descobrir de onde o vento trazia o cheiro de jasmim, que não percebia desde aquelas tardes infantis...

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