quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Sentimento empoeirado


"o céu é limpo e estrelado as almas são curtas e empoeiradas"

Entrelaçada nos lençóis quentes do seu corpo aquecido em mais uma noite de inverno, consome os últimos minutos antes de desprender-se do conforto da cama. O dia é com vento forte, que leva as folhas para desfilar pelas calçadas alheias. Enquanto tomava um banho demorado, era espectadora da forma como a água escorria pelo ralo. No caminho entre o banheiro e o seu quarto, colocou-se a olhar pela janela do corredor, decorada com quadros coloridos e fotos de lembranças da família. Viu como a cidade caminhava para mais um começo de dia. Já vestida encontra o espelho a sombra do desejo em percorrer formas de explorar o mundo insistente do seu pensamento. A dor da rotina escondia a falta de andar por ruas diferentes no centro da cidade. Cada passo diário voltava-se a percorrer arduamente a estagnação. Entre seus sonhos derivados, resolvou abdicar do pecado. Sem permitir chance ao pensamento em retornar, partiu sem tomar seu café da manhã. A rotina seria passada, distante daquilo que gosta, caminhou até a banca de jornais no meio da praça. Acirrou o descontentamento ao deparar-se com as manchetes que as letras brilhavam no enunciado. O último trocado do teatro. Timidamente abriu um sorriso. Muitos transeuntes leitores de jornais desconfiaram daquele sorriso. Mas o que importava, eles não sabiam nada a respeito da realidade. O percurso até o seu trabalho era distante oito quadras curtas do centro da cidade. Seria um caminho de certo ponto rápido, não fossem as insistentes paradas em cada esquina para reparar a abrangência do edifícios que escondiam o sol e deixavam mais fria aquela avenida. Após muitos olhares curiosos chegou ao trabalho. O vaso com flores amarelas a fez divagar mais longe da exatidão das planilhas e ligações que a esperavam. Encoberta pela sinceridade pensou em pedir demissão do emprego onde era funcionária havia trinta e oito meses. Antes de finalizar a idéia, recebeu a chegada de uma colega obstruída com problemas de família. Com palavras comuns aprendidas em conversas diárias com diferentes pessoas, sentiu conseguir melhorar a imagem da colega nos problemas nada exemplares.Costumeiramente presente em boa parte do tempo as palavras doces muitas vezes desprediam-se do conceito do real impresso dos livros. Ao voltar para a lembrança da manchete sentiu seus olhos brilharem. A vontade de pintar os olhos, espalhar pó pelo rosto, nunca sentiram-se tão próximas. O cheiro de tablado, os passos encenados, a cortina derrubada e os versos declamados estavam todos empoeirados dentro da sua alma. Hoje resolveram acenar para a liberdade.

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