quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Pudor da tarde insistente em acontecer





Esfrega os olhos cansados de tanto sofrer nos últimos minutos. O espelho do banheiro é platéia daquele rosto pálido. Busca encontrar motivos para despistar as reais condições em que sua vida encontra-se. vida seguia seus princípios rotineiros. Os seus encantamentos ao longo dos enlaces proporcionados pela felicidade matrimonial eram vistos em todas as direções. O porteiro do Edifício Pedro Manuel sempre recebia cumprimentos cordiais do Dr Carlos Eduardo. Até alguns transeuntes do calçadão recebiam menções do doutor nas suas saídas para o trabalho.
O espírito fraterno de contribuir com as pessoas, especialmente as de mesma genealogia, fez do seu amplo apartamento um local onde recebia familiares dispostos em buscar oportunidades na cidade maravilhosa.
Em uma manhã de maio, Felipe seu sobrinho mais novo, chegou a cidade do Rio de Janeiro. Recebido com um abraço caloroso e apertado do seu tio e, um beijo dissipado e estalado com gosto por Maria Luiza.
Naquele instante o olhar do jovem garoto confrontou-se com a suposta carência de Maria Luiza, vinte e dois anos mais velha. Aliás, naquela manhã Maria Luiza não poderia estender honras ao sobrinho de seu esposo. Rapidamente pegou sua bolsa e colocou o óculos de sol, rumando para o hospital, onde ocupava o cargo de cardiologista. Carlos Eduardo e Felipe ficaram sentados no sofá da sala, conversando distraidamente sobre histórias familiares. Entre as lembranças suscitadas resolveram ir andar no calçadão da praia. Após caminharem e olharem as pernas torneadas e bronzeadas das moças, decidiram retornar ao apartamento.
O tio resolveu tomar um banho. A solidão naquele momento propiciou ao menino olhar atentamente para as fotos espalhadas de Maria Luiza pelo apartamento. O encantamento despertado pelas fotos trouxe o frescor do beijo recebido na chegada. Carlos Eduardo precisou ir ao banco. Sozinho naquele imenso apartamento e cercado de certezas incovenientes, Felipe decidiu tomar um banho demorado para ajudar relaxar o corpo da intensa viagem. Enquanto o menino estava no banheiro, Maria Luiza retornou do hospital e despiu-se das roupas cotidianas. Vestia apenas um conjunto de lingerie preto. Enrolado na toalha Felipe abre a porta e encontra a mulher do tio Eduardo com trajes modestos, ela dirigia-se para um banho. Sem jeito o menino mal consegue pronunciar uma palavra.
Durante o banho a médica pensava em como aquele menino poderia resolver alguns problemas enfrentados ao decorrer de vinte anos de casamento. A companhia daqueles braços vitais e rápidos a fazia delirar em imaginar o ardor de estar junto ao sobrinho do esposo. Ao sair do banheiro Maria Luiza não titubeou em esquecer seus desejos e jogou-se sobre o colo de Felipe que estava sentado no sofá da sala. Perplexo com a situação Felipe timidamente resolveu participar ativamente da cena. Ofereceu caprichos nos beijos árduos de pudores. Nada interrompia o ímpeto dos desejos amantes. Maria Luiza sentia-se como tempos atrás. Aquele menino com toda vitalidade da juventude a saciava.
Boa Noite. Provavelmente a saudação ao porteiro noturno da entrada do edifício tenha sido a última antes de presenciar a traição da esposa amada com o sobrinho. Carlos Eduardo caminha com passos ligeiros em chegar em casa e poder beijar a esposa. Mas, seus beijos foram trocados pelo olhar vilenpediado em enquadrar a cena. Os olhos focavam apenas o enlace dos amantes. Carlos Eduardo gritou uma palavra que traduziu bem a ordem do acontecimento. Adúltera. O silêncio da situação interrompeu-se com os passos agoniados de Carlos Eduardo para o banheiro. E a rápida ação dos amantes enterrados confortavelmente no sofá. Felipe saiu do apartamento apenas com a roupa do corpo. Maria Luiza ainda atordoada com a situação batia desesperadamente na porta onde o esposo encontrava-se. Explicava com palavras diretas que a traição foi apenas um desejo em apetecer a libido surgida naquela tarde. Perdoe-me. Perdoe-me. Repetiu diversas vezes. Carlos Eduardo chorava continuamente e com a mão esquerda ainda ostentava a aliança de casado. Não respondeu nada. Sentia ser seu amor mais forte que a traição emoldurada naquela tarde.

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