quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Validade mofada



O velho engole compulsivamente sua saliva. Os olhos fitam um ziguezague sem penar na modéstia de um anjo arlequim. Foste o tempo em que amou, agora a tarde é mais uma janela aberta para a momentânea saudade. As mãos tremulam, uma inquietação adormecida perturba o degenerado homem habitual da suas tardes em cadeira de balanço.
O jornal solta tinta, vogais soltas misturam-se com as digitais mal resolvidas das lembranças impostas por estes tantos e poucos anos de vida.
A casa de madeira fina e velha chegava a dobrar algumas quinas de tão deteriorada pelos cupins armazenados. Os quadros da família voltava-se para o contrário da sala de estar, o balanço do chão afastava cada passo mais forte um pouco mais daquilo que eternizado, mofado e cheio de pó, era sua presente lembrança mais evidente.
Acende o décimo primeiro cigarro do dia, faz um esforço autêntico para tragar o mínimo possível. A tosse exala uma ronquidão surreal, os brônquios interrompidos, a respiração comprometida, uma sinfonia de tosses e mais tosses desimpedidas de aparecer e reaparecer cada vez mais seguidas. O bolso da molestada camisa de algodão vermelha ainda guarda mais uns quatro cigarros, sobras da noite passada. Seus olhos continuam a fitar, não mais o arlequim, muito menos o querubim, mas sim, a disposição dos cigarros em movimento a cada propagação da tosse combalida do peito. Escorrega na face suas mãos tremulas do tempo, dedos indicadores e médios contornam o rosto, desenham círculos imaginário de passados impiedosos com marcas.

As pequenas lembranças não têm força para serem esquecidas, o mundo passou em sua frente com a velocidade dos vídeos - tapes, e os momentos recordados em tempos seculares.
Sentado em sua cadeira de balanço feita com balaio tingido de verde, o velho retoma a linha de pensamento da vida. Exonera a idéia da tosse imperfeita, reconstrói imagens detalhadas da sobriedade com intuitos de saudade.
Morria e vivia a cada amanhecer. Indiferente ficava quando não acordava com o canto pastoril dos pássaros bucólicos, algazarras dos gritos de meninos e passos vespertinos, dos corpos expostos ao sol.

A erva-cidreira exalava o aroma do chá que ajuda a zelar seu sono em conflito com a rouquidão do peito.O velho cuspe, tosse, recorre a sua alma, mas não sabe ao certo a razão de tudo terminar assim. Defenestra o passado, revoga o futuro, e não consegue sentir o presente.
Alguns sussurros de saudades e ausências que não entendia são a parte mais confidencial de um homem em conflito. Assoviar não consegue mais

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Pálpebras fechadas




O gato espreguiça-se sobejamente entre o vaso azul e o aquário que decora a sala. A sua vagarosa saída do seu descanso relaciona-se com o ânimo, de quem sente as frações de sol, que esquentam o tapete da sala.
Aproveita o momento, e delicadamente, salto sobre o sofá, que recolhe umas toalhas bordadas, sobras de estações passadas.
A cidade caminha urbanamente e violentamente, buzinas de carros apressados, gritos de pessoas no desespero do trabalho informal, o vendedor de dvd pirata, o pedinte, a cidade mistura todos, ninguém se salva, todos caminham para um sugestivo caos vespertino.
O barulho de vaso arrastado no apartamento ao lado, corteja o olhar do bichano, que não tem tempo de despedir-se, da mais nua realidade. Aquele som ensurdecedor não se prolonga mais do que três minutos suficientes, para fazer o pardo gato não voltar-se mais para saltar o sofá. Duas passadas expressivas e lá chegava o bichano à lavanderia. Varais entrelaçados com roupas coloridas penduradas confundiam os inertes olhos negros. Girava-se em torno do centro de gravidade daquele pequeno e úmido espaço. O tanque de roupas tinha um vazamento, que atirava gotas de água, que explodiam no piso, e, molhavam a sua pata.
A situação não o permitia continuar por ali, precisava alcançar algum outro meio, para conseguir uma iguaria apetitosa. Em sentido contrário ao tanque, contornou as peças de roupas, umas caixas de sapato e uma pilha de jornais passados. Seu estado lorde, não considerava que aquela cena estivesse realmente acontecendo, mas, na situação de buscar mastigar a fome, usou seus gracejos de gato do mato. Uma lambida, duas lambidas, um balbucio no prato de comida, e, pronto, o gato estava pronto para mais algumas horas de estulto.
Voltou-se em sentido de guarda imperial, estufou os pêlos do peito, parou no meio da sala e passou a observar o rasante dos peixes. Poucos minutos de olhares incestuosos, já sentirá suas pálpebras colidirem uma na outra.
Uma infinitude de vozes passeavam por sua memória, discursos infectados de moscas gratuitas. O pavor de perceber e não poder corrigir o lamento das discussões anteriores, de não impedir o abismo de sentimentalismo, executado, dia a dia, com a inauguração repetida de sentimento.
A volúpia de reencontrar a sala vazia, o livre desfile dos peixes, o vaso azul intacto, o deixam tranqüilo para continuar a cortejar o tempo isolado naquele ambiente.
Hoje as desventuras são figurações da memória, e agora pode voltar para seu canto e, apenas esticar as pernas quando a fome apertar, ou a sede exigir, elegantemente, o bichano se espreguiçara e prosseguira com a peleja de uma tarde sozinho.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Herança errada


A cortina aberta para o céu da noite revela o quanto os outros são somente os outros quando estão do outro lado da rua. Silêncio imaturo de mais um cigarro tragado, que traz perfume de outra estação. Depois que ficou sozinha, não precisou mais pedir licença.
Escreve suas antiquadas cartas, que sempre acabam rasuradas. Pés acelerados, trombam um no outro, mãos exageradas de marcas de caneta, respiração ardil, sinfonia banal de uma exagerada aceite na carta de recomendação. Que os urubus decorem seus passeios aéreos e não tragam barulho para as costas cansadas de tanto sentir o peso de pensamentos eloqüentes dos últimos dias. A falta de controle de suas ações, a fez pegar comprimidos, que estavam estacionados sobre uma pequena mesinha de canto, coberta por uma toalha vermelha, com as bordas bordadas em branco. Comprimidos que a permitiram a esticar o braço e pegar o telefone, a ligação era breve, apenas um sinal, que estava tudo bem. Deitou-se no sofá, levantou a perna esquerda, desfez a cara apressada.

Após tentativas mal sucedidas, resolveu voltar para seus fantasmas mais inglórios. A composição química dos comprimidos, já fora devorada com tanto vontade, que poderia fazer um atestado de todas as formulas da vida naquele momento da noite.
Os fantasmas são merecimentos dos restos de todas as chances que a vida apresentou, mas a sonolência dos sentimentos não permitiu.
A todo o momento sobra herança de alguma coisa, nada nasce e morre sem deixar uma herança, é certo, que algumas heranças não deveriam perpetuar, assim, os momentos seriam mais fáceis.

Voltou a sua carta de recomendação, pinçou e logo saíram uma meia dúzia de palavras, que não tinham em nada o tom amargurado da noite, nelas existiam um acre sabor doce, que as palavras salvam o mundo, e neste sentido a herança da noite era boa. Na falta de uma palavra, pegou o dicionário, dentro encontrou uma fantasma amassado, não inventou desculpa, e nem tentou justificar como fosse uma mensagem subliminar.
As suas heranças são merecedoras de seus próprios desejos, que sempre tentam conformar a solidão com apertos de mão. A misericórdia alheia nem mais assusta, pois já sente o quanto é mais saboroso guardar seus fantasmas dentro de seu apartamento.
Um trago a mais no seu cigarro abençoado e uma justificativa em olhar aquele vazio do seu apartamento e perceber que tudo tem sentido definido e, talvez os momentos silenciados nas palavras, sejam o único lugar ideal onde se imagine existir.

Fustigar silêncios

a escuto
como quem faz uma prece de silêncio

a vejo
sinceramente, um espelho ao avesso
com o rosto voltado para você mesmo

a sinto
quando não mais minto
para mastigar a inocência.

Voltas e revoltas



Cansada e fustigada de tanta violência em casa, Clara resolveu mudar. Por mais que se mudar fosse uma atitude incerta demais, ela precisava de uma chance para recomeçar distante de todos. As longas caminhadas pelas ruas infinitas da cidade a fizeram pensar inúmeras vezes em voltar para o capricho inocente do lar. A vida não estava fácil, a situação caótica do mercado de trabalho, a falta de experiência, e o pouco conhecimento do centro da cidade, a levaram a suspender suas tentativas em atração para não precisar mais se perder. Mesma contraria retornou para sua casa. Os ecoantes gritos do seu pai, e a harmônica submissão de sua mãe, a faziam ver como a vida não tinha nenhum argumento para ser inocente. Trancada em seu quarto, escutou mais algumas sessões extras de discussões familiares. A rotina em sua casa era assim.O mundo adolescente se compôs contrário a sua singularidade de sempre imaginar a vida sem plural de acontecimentos. Na rua sempre encontrava oportunidades que vinham de homens não muito interessados na experiência, ou falta dela. Os detalhes de sua pele clara, seus olhos castanhos claros e cabelos negros e lisos ocultavam as outras habilitações. Clara presenciou cada vez mais homens dispostos e serem empregadores com mais benefícios sobre a funcionária.O tempo passou, seu pai e seus gritos cada dia mais desafinados, não ecoavam tanto dentro de casa. Sua mãe agora já conseguia evocar sua opinião, principalmente nos assuntos que envolviam a filha. Clara já conseguira um emprego, conseguia instabilidade para morar sozinha e não precisar presenciar todas aquelas imagens e sons que a maltratavam diariamente.Aqueles belos olhos castanhos judiaram bastante de vários homens, mas especialmente em um, ele foi fundamental para mudar toda a história. João Carlos é um rapaz recém chegado de uma cidade serrana e é estudante de direito. Residente nas proximidades da universidade, acaba rendendo-se as festas e encontros universitários. Em uma delas, conhece Clara e naquele instante nada mais tinha valor.O conhecer arrebatador de João é apenas visual, não chegou a proferir uma única palavra. Mas apaixonado e perdidamente extasiado com o belo retrato construído da composição de Clara, ele passou a viver cada dia mais a imaginando. João não sabia, mas Clara nestas alturas já tinha marido, e estava com um bebê a tira colo. Neste intervalo de lembranças a viu, naquele instante o mundo parou e sorriu delicadamente. João aproximou-se e disse:

Oi. Tudo bem?

Sim, vou bem.

Clara?

Sim e você?

Belo nome, mas não sei quem é você?
Neste momento João sentiu que tudo o que sentia era puro delírio imaginário de uma paixão visual. Apenas despistou, inventou uma mentira qualquer e seguiu seu rumo.O ano passou, a estação mudou, mas Clara continua sofrendo as conseqüências de casar e ter que agüentar o autoritarismo do casamento. Seria o presente repetindo os momentos do passado. Certa noite lembrou-se que o nome do seu segundo filho será João. E não sabe o real motivo.

João .

O amor é acidente



O amor sempre foi visto como molhar os dentes em bolachas, ainda com sabor pasta de dente, após a cena retro da atriz enciumada sobre a cortina ensolarada.
O acidente, foi perguntar ao inocente, onde está o contente? E assim tudo fica perfeito, perto do medo ao lado da inteligência.
Algum sentido satisfaz, procurar abrigo e mente mais uma vez para não provocar ferida.
O amor é dormente, não escova os dentes e desconhece bolachas maizenas. Por um momento, quase desconversei e acreditei no acidente.
A gente olha envergonhado a cena da atriz com discurso decorado ao declamar a lua em poema.
O amor foi acidente. A dor é dormente. Tudo contente. Sorrisos e espaços para todos em momentos.
Agora o amor não tem jeito, sem um mundo fora do jeito, perfeito do som risório e apego do abraço mais feliz do mundo.
O amor não está doente.E agora não está só.

Estacionamento de lembranças



[...] nada queria além de entender a solução da solidão impiedosa em aparecer."Foi apenas um olhar atento sobre os telhados das velhas casas no centro de Curitiba. Ali nas imediações, encontravam-se os redutos de pessoas distantes de presenciarem a amadora felicidade, de encontrar abraços, aliás, abraços recebiam, vez em outra, de alguma informalidade casual.
O telefone já tocara muitas vezes, todos eram apenas especulações matinais, nada resolvia para concluir, que os fatos com prazo vencidos, tinham mais algumas horas de acréscimo. Resolveu não atender mais o telefone naquela manhã, saiu com passos mais rápidos que um cão desesperado atrás de seu dono.
No instante anterior a sua decisão escutou uma conversa de pessoas distraídas sobre o tempo ocioso de estar na procura de um filme fora de catalogo. Esta conversava ecoava em sua cabeça, que nada queria além de entender a solução da solidão impiedosa em aparecer.Escutou um ruído de um carro que derrapou no asfalto quente, a rua tumultuada de gente apressada, as lojas com sua roupas desbotadas, e as calçadas úmidas do calor, tudo isso, foi motivo suficiente para voltar para o silêncio dos seus momentos.
Antes de voltar para o seu apartamento, resolveu comprar um suco de laranja.O apartamento estava com as janelas fechadas, e os urubus ilustravam os telhados das velhas casas. Sem pedir licença para si mesmo, abriu as janelas ferozmente. Despistou o olhar e após olhar atentamente os telhados, e os prédios vizinhos, resolveu contorna-los e se fixou a olhar os carros que passavam em uma velocidade alta, naqueles momentos, talvez fosse melhor atender ao telefone.A campainha tocou, nada seria tão injusto, como uma visita naquela hora, mas resolveu atender a porta. Não foi nada além de um aviso da portaria sobre a reunião do condomínio. Sentiu-se aliviado em rapidamente poder voltar para seu próprio universo.A televisão ligada foi sinal que a solidão começava a preocupar, o sofá espaçoso tinha lugar de sobra, e nem um comentário tinha direito de fazer. Desistiu de continuar em frente ao televisor. Encaminhou-se para o quarto, que ficava no sentido oposto da janela das paisagens dos telhados. Sem perceber pegou-se a olhar perdidamente o os pertences bagunçados, a cama vazia, lençol desarrumado e, o único travesseiro atravessado. O guarda roupas ainda sustentava lembranças de passados recentes.
A partir daquele dia, não pensou mais em conseguir apenas olhar os velhos telhados e os carros apressados nas avenidas.

Singularidades vespertinas



"prazer foi omitir a mentira disfarçada nas primeiras tardes de verão"


[...] Com o acumulo da água das últimas chuvas fortes de verão, o caos se perverteu para amassar a fatia mais insana do pensares mais humanos. O latido do cachorro afônico, após uma noite de festas revela o quanto os quereres foram mais insanos. Prazer foi omitir a mentira disfarçada nas primeiras tardes de verão. Sentou-se para olhar a chuva, deixou a água passar embaixo dos seus pés, com a mão esquerda segurava o guarda-chuva, e a mão direita, pinçava um cigarro de filtro fino, herança esta oriunda dos filmes britânicos da década passada. Os olhos enxergam mais que simples imagens, percorrem as pernas, encantos e pudores iconoclastas da modernidade. Logo sem pedir licença, nem entender muito de progresso, chega um senhor, que pede um cigarro, sem muito social, solta o guarda-chuva e busca a carteira e entrega-o. Tinha certeza que o momento era único, e naquele plano de chuva, guarda-chuva, cigarro, caos e modernidade, o retrato figurava como resultado de ser cena da realidade. Não pode continuar sentado, a chuva aumentou a força, e os deveres o recrutavam para mais uma tarde. Após, dentro de casa, sentiu, que aquela cidade não era seu lugar, precisava logo mudar de ares, para não enfartar.

Impróprias lembranças


Maria Clara sempre que podia passava na panificadora na volta do trabalho e comprava pães franceses para não precisar sair na manhã seguinte para comprá-los. Costumava chegar do trabalho por volta do noticiário das 19 horas, vez em quando perdia as noticias por esbarrar em conversas descontraídas com as vizinhas e conhecidos de bairro.Ao adentrar sua confortável casa na Alameda dos Pinheiros primeiramente jogava sua bolsa sobre o sofá e ligava o televisor no canal em que o apresentador era mais agradável que a noticia. Aumentava o volume, permitindo-se assim lavar o rosto tranquilamente e não perder nenhuma matéria do noticiário. Entre uma noticia e outra conseguia preparar o jantar e programar o próximo dia.Tudo acontecia em perfeita sintonia, sabia escolher suas renuncias e preparar o famigerado espírito combalido de tanto sofrer nos últimos anos. Quando sem querer escutou em uma propaganda uma frase que falava sobre o futuro e do futuro quis fugir, mas não encontrou saída, foi levada pelas lembranças para o mundo em que foi feliz. Neste tempo suas lembranças eram limpas e casuais, nada parecia lhe tirar o sorriso estampado em todas as manhãs. Mas diferente daquele tempo parecia querer enfrentar a dor, que nunca ousou enfrentar.Forte demais não permitiu as amarguras estragarem seus desejos, jurava a felicidade ser sua companheira, mesmo que algo acontecesse e a fizesse por momentos pensar de forma diferente. Relutou sobre tantas transformações de pensamentos, pessoas e atitudes insanas.
A perturbação sempre se desprendia do suposto jeito de sentir o mundo.Sentada na mesa enquanto jantava voltou seu olhar para o calendário e começou a contar quantos dias iria precisar para poder estar distante de toda aquela ameaça de bem estar.Sem muito forçar descobriu que o homem com quem um dia trocou palavras de amor estava casado e distante da cidade onde morava. Ao mesmo tempo sentia que ficar presa na vontade sentimental não era uma maneira mais eficaz de ambicionar a felicidade.
A partir daquele instante Maria Clara descobriu que o pudor sempre é esquecido em nome das boas maneiras, mas nunca é deixado de lado quando é exigido em pensamentos.O mundo começava diferente para ela, durante suas jornadas de trabalho e convívio com as pessoas do seu circulo de amizades era tudo correto, talvez fosse uma forma de esconder dos seus sentimentos a carência de nunca conseguir viver o amor novamente. Mas sempre que entrava na sua casa na Alameda dos Pinheiros voltava a sonhar com os embalos daqueles sentimentos e fazia de tudo para voltar a recordar tudo que um dia a presença trouxe em sonho.
Promete uma tarde dizer tudo o que sente sem precisar assinar contrato, até lá o pudor continuará a ser exclusividade dos pensamentos.

Glicose enamorada


Amor
quando existe outro amor
continua a ser amor
em outras madrugadas.

Noites depois



O abajur acesso não impedia a luz de transcender amarelamente tímida e atingir seu rosto mais usual de amostras reais da felicidade. Condições pairavam sobre conversas distraídas de tantas tardes enciumadas em não prolongar relatos da vida que chegava muitas vezes sobre notícias de jornal. Folhava mais algumas páginas do livro que precisara ler para argumentar contra seus pensamentos menos eloqüentes. O relógio insistia em lembrar, que o canto apressado do galo, anunciava mais um dia que despertava com o sol estendido para a avenida. Não sentia mais vontade de dormir, não sentia o peso sonolento do seu corpo. Queria amordaçar os desejos mais insanos e prender atenção no coloquialismo dos anseios diários. Colocou-se de pé, firmemente os prendeu sobre o piso gélido e assim pode sentir o frescor da alma, que esvaziava o caos sentimental de estar entretida tanto tempo entre um lençol umedecido nesta madrugada nada fria. Caminhou em direção a cozinha, precisava tomar algo, talvez uma água, apenas para não maltratar a sede. O deslumbre com cenas sólidas de vinhos tintos e rosas amarguradas de saudade, recortavam um vitral que emoldurava a cena despertada em canto diferente ao canto do galo esquizofrênico da madrugada. Enxergava-se prendida sobre um garboso vestido branco de tecido fino, que não exigia resposta diferente além do que os olhos presenciavam e os pensamentos queriam. Luiza escutou seu nome chamado três ou quatro vezes, não entendia como poderia ser reconhecida, apenas por vestir um belo vestido. Os olhares vazivos, os comentários lúcidos, e toda a menção ferrenha dos que a viam. Tudo novo, diferente e vazio de tranqüilidade.
A inquietação alheia sempre a perturbou, mesmo inconscientemente preferiu atitudes mais discretas em relações com a sociedade. Perdida entre o copo de água e sua taça de vinho tinto, virou-se para o lado esquerdo e pode constatar as sete horas e vinte e dois minutos, três minutos antes do ensurdecedor despertador anunciar o começo de mais um dia. Ao caminhar entre pessoas tão diferentes e caóticas pelas avenidas centrais da cidade pode revelar para seus sentimentos doces e devaneios íntimos que os versos - "Pra te esquecer, Luiza, eu sou apenas um pobre amador apaixonado, um aprendiz do teu amor", foram pretextos nada sóbrios de resquícios de realidade.
Ainda pensa em comprar um garboso vestido, confessa não ser influência do sonho da madrugada passada.

Fuga do silêncio

Entre.
-Com licença.
-Toda.
Gostaria de conversar sobre causos que insistem em atormentar meu corpo. Fale, não sinta-se preso ao afago das palavras. O senhor sabe muito bem as razões que trazem as pessoas a virem até aqui. Olha, muitas vezes não sei do que trata-se, mas no decorrer das conversas, sempre apresento inferências.
Outro dia peguei-me preocupado com os cabelos brancos nascentes em minha costeleta. Isso sem contar os minutos recluso em frente ao espelho para diagnosticar quantos fios mais claros tenho em minha cabeleira. Sabe fico sem jeito em olhar o espelho e sempre ver anúncios que estou deteriorando com o tempo. O grande motivo que trouxe-me aqui é simples e jocoso, fica a critério do doutor escolher.Ontem percebi que uma amiga perdeu seu olhar em minhas entranhas capilares, aquela visão foi tão escandalosa e denunciante. Meu corpo todo foi alvejado com tamanho olhar pretensioso, aqueles segundos foram mais arrastados que os ponteiros do relógio da Guerra do Iraque.Então doutor, o que você pode-me dizer? O seu caso é algo comum na nossa sociedade, vejamos quantos homens não ficam desesperados com qualquer sintoma que entregue a idade. Não preocupe-se, as estrelas também envelhecem, as páginas amarelam e seu futuro muitas vezes envelhece com lembranças do passado. Mas, o doutor acha normal meus pensamentos?Sim, alias normalíssimo. Doutor, doutor.
A esposa de um amigo acha piegas homens com cabelos brancos, para agravar a cena, ainda disse que pior são os homens que não fazem nada para combater ou cabelo branco. A mistura de lembranças levam-me a minha infância, quando assistia os velhos generais com seus cabelos brancos cobertos por suas boinas verdes discursarem por longas horas, sempre cheios de razão, como o mundão fosse seu próprio salão de festas. Certa vez lembro do titio Lopes, chegou em casa calado, tia Maria perguntou, o que aconteceu Lopes. Sem forçar muito a língua soltou um fúnebre “O golpe de 64 começou.”. Depois foi tudo um silêncio perdurado por 21 felizes anos novos. Sabe doutor, nem queria vir até seu consultório, porém minhas incertezas de pensar e interagir como sou obrigaram minhas pernas serem contraria ao pensamento. E olha, nunca prometi muita coisa, mas uma das minhas promessas foi em não entrar nunca em um consultório psiquiátrico. Sempre considerei piegas relatar problemas para um outro alguém que mal conhece-me, com todo respeito a sua pessoa e formação doutor.
Não dormi por várias noites, ensaiei a visita ao consultório, cheguei a fazer um estudo do local para não ocorrer no problema de encontrar algum conhecido, nunca sabe-se, vai que aparece a esposa do amigo e solta mais alguma frase profética.
E a sua esposa? Minha esposa acha bonito homem grisalho, nunca disse nada sobre os fios brancos da minha costeleta, mas sempre faz comentários sobre atores hollydianos que tem cabelos grisalhos. Então, senhor .. Não seria mais fácil interessante apropriar-se dos comentários da sua esposa e esquecer uma opinião alheia. Sabe doutor, na teoria seria mais cômodo, porém a pratica exige parecer para terceiros ser uma pessoa diferente dos comentários.
Mas, assim você vai acabar maltratando a si mesmo. Não percebes que nunca conseguirá ser os dois lados da moeda. Entenda, seu problema é querer corresponder o capricho de um comentário, ainda mais de uma pessoa que não tem vínculo algum com o senhor. Os cabelos brancos são amostras do tempo implacável, ou senhor acha que nesse tempo de consulta o tempo parou? As crianças da roda cutia, as meninas do amarelinha já ultrapassaram a fase infantil, por mais que sejam crianças, estão minutos menos crianças.
Aqueles restos de cabelos espalhados ao chão do salão, tinha vários fios brancos e eu brincava de coloca-los sobre minha cabeça quando criança, enquanto esperava para cortar meu cabelo. Menino que gosta de brincar com fios de cabelo vamos lavar o cabelo e depois corta-lo. Lá, lá, ri, lá, lá, assoviando em notas sustenidas o barbeiro sempre contava quantos fios brancos escorriam pela pia. Uma contagem significativa sempre resultava. Deve ser uma espécie de provação da vida em fazer acontecer às vontades. Na última vez que cortei o cabelo, seu José o barbeiro contou-me sobre sua preocupação com o aumento da força militar nas ruas da cidade. Uma preocupação que maculava seu tom afinado de assovio e cantoria.
Manhã de sol, céu aberto e sem nuvens. O rádio tocava uma canção bonita com versos cheios de metáforas, pela janela aberta, percebia os pássaros cantores e alguns casais de enamorados. Sem fazer propagando alguma a rádio interrompeu a música e divulgou a manchete. “Uma explosão acabou com a barbearia do Seu José” mais informações na seqüência da programação.O silêncio colocou-se à frente das palavras.
Próximo.

Suficiente palavras

E depois do susto o sorriso alcançou a casa toda. O inverno daqui a pouco e os conselhos de sua mãe são respostas que antecipam perguntas.

- Aquele momento nunca mais cansou de acontecer.

Suas verdades

"O que ele fala é responsabilidade comum da sua vontade"

Entre versos e personagens, resolve abdicar de lembranças que satisfazem condições fugazes da realidade. Outro dia ao elaborar a fala de Rodrigo pensou em fazê-lo um homem errôneo nas questões sociais. Mas qual homem muitas vezes não torna-se errôneo quando maltratado pelas angústias do coração e, resolve abrir a janela e visualizar o mundo de outro jeito. Passados alguns anos, lembra muito das tardes ensolaradas, quando andar pelas calçadas, era apenas sujar os pés brancos em chinelos encalacrados. A xícara de café, balança com o balanço do mezanino onde escreve. A noite apenas começa, antes de descansar os olhos fragilizados das horas passadas do dia. Rodrigo atravessa a praça, coloca-se a olhar o céu, sabe que naquele mesmo espaço, instantes depois, estrelas começarão seus passos celestiais. vitrine toda moldada, traz preços da liquidação passada. A perfeição da conjugação do passado o faz voltar e olhar mais atentamente sobre a vitrine que esconde cenas vistas por aqueles olhos compenetrados de arbitrariedade. As imagens são partes de uma seqüência nada linear, onde o complemento fica proposto à imaginação. A porta do bueiro mal encaixada, quase o faz cair. Meninos e meninas alvoroçados de distração passam correndo ao seu lado. Naquele instante jurou ter visto uma estrela dourada, que anteriormente tinha visto no céu. Isso não existe, você está muito enganado, estrelas não correm pelas calçadas da cidade, disse um retirante do grupo de meninos. A extensão da imaginação são seus olhos, sem a imaginação, nada representa muito, além daquilo que os cílios permitem. O personagem não cabe mais nesse mundo. Abdicou das lembranças. Enquanto prepara a fala de Maria Eduarda, pensa em como propiciar um final mais feliz para Rodrigo. Talvez, seja mais conveniente deixa-lo recluso mais tempo desse mundo.

Pudor da tarde insistente em acontecer





Esfrega os olhos cansados de tanto sofrer nos últimos minutos. O espelho do banheiro é platéia daquele rosto pálido. Busca encontrar motivos para despistar as reais condições em que sua vida encontra-se. vida seguia seus princípios rotineiros. Os seus encantamentos ao longo dos enlaces proporcionados pela felicidade matrimonial eram vistos em todas as direções. O porteiro do Edifício Pedro Manuel sempre recebia cumprimentos cordiais do Dr Carlos Eduardo. Até alguns transeuntes do calçadão recebiam menções do doutor nas suas saídas para o trabalho.
O espírito fraterno de contribuir com as pessoas, especialmente as de mesma genealogia, fez do seu amplo apartamento um local onde recebia familiares dispostos em buscar oportunidades na cidade maravilhosa.
Em uma manhã de maio, Felipe seu sobrinho mais novo, chegou a cidade do Rio de Janeiro. Recebido com um abraço caloroso e apertado do seu tio e, um beijo dissipado e estalado com gosto por Maria Luiza.
Naquele instante o olhar do jovem garoto confrontou-se com a suposta carência de Maria Luiza, vinte e dois anos mais velha. Aliás, naquela manhã Maria Luiza não poderia estender honras ao sobrinho de seu esposo. Rapidamente pegou sua bolsa e colocou o óculos de sol, rumando para o hospital, onde ocupava o cargo de cardiologista. Carlos Eduardo e Felipe ficaram sentados no sofá da sala, conversando distraidamente sobre histórias familiares. Entre as lembranças suscitadas resolveram ir andar no calçadão da praia. Após caminharem e olharem as pernas torneadas e bronzeadas das moças, decidiram retornar ao apartamento.
O tio resolveu tomar um banho. A solidão naquele momento propiciou ao menino olhar atentamente para as fotos espalhadas de Maria Luiza pelo apartamento. O encantamento despertado pelas fotos trouxe o frescor do beijo recebido na chegada. Carlos Eduardo precisou ir ao banco. Sozinho naquele imenso apartamento e cercado de certezas incovenientes, Felipe decidiu tomar um banho demorado para ajudar relaxar o corpo da intensa viagem. Enquanto o menino estava no banheiro, Maria Luiza retornou do hospital e despiu-se das roupas cotidianas. Vestia apenas um conjunto de lingerie preto. Enrolado na toalha Felipe abre a porta e encontra a mulher do tio Eduardo com trajes modestos, ela dirigia-se para um banho. Sem jeito o menino mal consegue pronunciar uma palavra.
Durante o banho a médica pensava em como aquele menino poderia resolver alguns problemas enfrentados ao decorrer de vinte anos de casamento. A companhia daqueles braços vitais e rápidos a fazia delirar em imaginar o ardor de estar junto ao sobrinho do esposo. Ao sair do banheiro Maria Luiza não titubeou em esquecer seus desejos e jogou-se sobre o colo de Felipe que estava sentado no sofá da sala. Perplexo com a situação Felipe timidamente resolveu participar ativamente da cena. Ofereceu caprichos nos beijos árduos de pudores. Nada interrompia o ímpeto dos desejos amantes. Maria Luiza sentia-se como tempos atrás. Aquele menino com toda vitalidade da juventude a saciava.
Boa Noite. Provavelmente a saudação ao porteiro noturno da entrada do edifício tenha sido a última antes de presenciar a traição da esposa amada com o sobrinho. Carlos Eduardo caminha com passos ligeiros em chegar em casa e poder beijar a esposa. Mas, seus beijos foram trocados pelo olhar vilenpediado em enquadrar a cena. Os olhos focavam apenas o enlace dos amantes. Carlos Eduardo gritou uma palavra que traduziu bem a ordem do acontecimento. Adúltera. O silêncio da situação interrompeu-se com os passos agoniados de Carlos Eduardo para o banheiro. E a rápida ação dos amantes enterrados confortavelmente no sofá. Felipe saiu do apartamento apenas com a roupa do corpo. Maria Luiza ainda atordoada com a situação batia desesperadamente na porta onde o esposo encontrava-se. Explicava com palavras diretas que a traição foi apenas um desejo em apetecer a libido surgida naquela tarde. Perdoe-me. Perdoe-me. Repetiu diversas vezes. Carlos Eduardo chorava continuamente e com a mão esquerda ainda ostentava a aliança de casado. Não respondeu nada. Sentia ser seu amor mais forte que a traição emoldurada naquela tarde.

Mínimas rimas



Veste-se como um alferes desconhecido do destino
não lembra nem insisti
persegue o caminho

Veste-se como um partidário romântico
compra flores
escreve e envelopa cartas com frases apaixonadas
na busca por uma namorada

Veste-se como uma condição
prolongada da felicidade
em encontros mais felizes
que os encantos dos retratos

Veste-se com pudores
onde reencarna rancores
em beijos castos

Veste-se de verdades
para contrariar as peripécias da vida

Veste-se de Sábado
esquecendo-se do famigerado Domingo

Veste-se de alguém
lembrando ser alguém
sonhando com ninguém

Veste-se como um novo alferes
com os mesmos receios
e mais dores de cotovelo.

Cachorro sem nome


O cheiro de jasmim invadiu a porta, trazendo saudade das tardes chuvosas de verão. As brincadeiras de roda repletas de expressões infantis, letras desenhadas nas árvores, violão desafinado e músicas cantadas no embalo da rede, são lembranças insistentes do passado. Tempos que deixaram um legado além da saudade. A visão é nítida do jardim, a janela permite olhar, sem precisar pedir desculpa ou permissão em imaginar legalmente as paisagens, onde brincou. Certa manhã foi pega de surpresa pelo cachorrinho aparentemente abandonado que aparecerá no sítio da avó. Os pelos marrons e ralos, denunciavam suas costelas salientes. Foi até a cozinha e encheu um pote de leite. O trouxe com as mãos pálidas de medo da reação da avó ao saber que pegou leite para alimentar um cão abandonado. O mamífero praticamente engoliu tudo de uma única vez, constatando a fome. Antes de pensar em um nome para chama-lo, sua avó apareceu. As mãos agora tremulas faziam conjunto com a boca que deletreava um pedido infantil de desculpas. D.Clara com aquele olhar carismático de avós, disse: Minha filha, que cachorro mais lindo. Assustada com a reação da avó, pensou em contar a história. Mas não conseguiu. Naquele momento esperava apenas poder levar o cachorro para sua casa. D.Clara astutamente falou sobre a boa ação da neta em levar leite ao pobre animal com fome. Sem entender muito, apenas sorriu discretamente. Várias vezes enquanto lia fabulas escritas por seu avô, corria os pés sobre os pelos macios do saudoso cachorro.A saudade daquelas cenas proporcionaram um encontro com passado natural e belo em acontecer. Antes mesmo de voltar a sentar-se, olhou para descobrir de onde o vento trazia o cheiro de jasmim, que não percebia desde aquelas tardes infantis...

Nas idas do acaso


Os tristes passos cederam lugar para o sorriso espaçar a volúpia da cena em acontecer. O elevador parado subtraiu a chance de reaver desejos maiores em suceder uma tarde restrita as conversas informais dentro da sala de aula. Distraidamente não percebeu o elevador estacionado no térreo. Antes mesmo dos seus olhos perguntarem-se o motivo pelo qual ainda não teria saído do lugar, o porteiro nem um pouco cordial, a não ser quando pedia um cigarro, segurou a porta do elevador com um sorriso e uma saudação colérica de boa noite. No intertvalo enquanto explicava a rotatividade de alguns moradores, percebeu os passos agoniados em aproveitar uma carona naquela ida do elevador. Conseguiu. Timidamente os olhos entrelaçaram-se formalizando uma saudação rápida de uma breve apresentação resumida em boa noite. Curvou a cabeça para a porta reveladora de tantas histórias e descobriu ser o 11º andar. Limitou-se a olha-la pela sequência dos vidros do elevador 2x2. Encostada no fundo do elevador a menina que tinha na testa um breve suor, resultado dos passados rápidos para angariar aquela ida no elevador, ainda tinha resquicios da maquiagem após um dia intenso de trabalho. A bolsa a tira colo, escondia o certo tremor dos seus singelos braços castos. Sentia a necessidade de falar algo, talvez, uma frase qualquer. Não conseguiu. Verdades passadas passeavam por sua cabeça, mesmo que não fosse a hora mais apropriada. Estalo espaventado. 11º andar. Dois passos fraternos de desejos, boa noite e até mais. Até mais respondeu. A eufonia provocada por aquela voz doce conjugou com o aroma do perfume estacionado dentro do elevador um sentimento de desculpa por andar celebrando a tristeza pelos cantos. Ápós sair do elevador, sabia apenas ser o 11º andar o local da abstração do coração em sonhar.

Sentimento empoeirado


"o céu é limpo e estrelado as almas são curtas e empoeiradas"

Entrelaçada nos lençóis quentes do seu corpo aquecido em mais uma noite de inverno, consome os últimos minutos antes de desprender-se do conforto da cama. O dia é com vento forte, que leva as folhas para desfilar pelas calçadas alheias. Enquanto tomava um banho demorado, era espectadora da forma como a água escorria pelo ralo. No caminho entre o banheiro e o seu quarto, colocou-se a olhar pela janela do corredor, decorada com quadros coloridos e fotos de lembranças da família. Viu como a cidade caminhava para mais um começo de dia. Já vestida encontra o espelho a sombra do desejo em percorrer formas de explorar o mundo insistente do seu pensamento. A dor da rotina escondia a falta de andar por ruas diferentes no centro da cidade. Cada passo diário voltava-se a percorrer arduamente a estagnação. Entre seus sonhos derivados, resolvou abdicar do pecado. Sem permitir chance ao pensamento em retornar, partiu sem tomar seu café da manhã. A rotina seria passada, distante daquilo que gosta, caminhou até a banca de jornais no meio da praça. Acirrou o descontentamento ao deparar-se com as manchetes que as letras brilhavam no enunciado. O último trocado do teatro. Timidamente abriu um sorriso. Muitos transeuntes leitores de jornais desconfiaram daquele sorriso. Mas o que importava, eles não sabiam nada a respeito da realidade. O percurso até o seu trabalho era distante oito quadras curtas do centro da cidade. Seria um caminho de certo ponto rápido, não fossem as insistentes paradas em cada esquina para reparar a abrangência do edifícios que escondiam o sol e deixavam mais fria aquela avenida. Após muitos olhares curiosos chegou ao trabalho. O vaso com flores amarelas a fez divagar mais longe da exatidão das planilhas e ligações que a esperavam. Encoberta pela sinceridade pensou em pedir demissão do emprego onde era funcionária havia trinta e oito meses. Antes de finalizar a idéia, recebeu a chegada de uma colega obstruída com problemas de família. Com palavras comuns aprendidas em conversas diárias com diferentes pessoas, sentiu conseguir melhorar a imagem da colega nos problemas nada exemplares.Costumeiramente presente em boa parte do tempo as palavras doces muitas vezes desprediam-se do conceito do real impresso dos livros. Ao voltar para a lembrança da manchete sentiu seus olhos brilharem. A vontade de pintar os olhos, espalhar pó pelo rosto, nunca sentiram-se tão próximas. O cheiro de tablado, os passos encenados, a cortina derrubada e os versos declamados estavam todos empoeirados dentro da sua alma. Hoje resolveram acenar para a liberdade.

Amor que chega sem aviso

em conjuntos de frases curtas e longas constroí um suposto mundo, que filma cenas curtas da primeira parte de um Amor que chega sem aviso.


... o céu da cidade abre sinceras nuvens que embalam versos declamantes do poeta em questão. Onde esconde-se os medos, derrama-se também sinceridade apaixonadas de perguntas sem muitas respostas. A porta arranha o som do vento em acalantar lembranças e mostrar bem o caminho pelo qual prosseguir o trem. Sentado na poltrana 23, colado a janela, acende um cigarro, degusta o trago, conversa com a solidão vaga daquele vagão. Olha para as estrelas como pedisse perdão para o abismo de estar perto da onde nunca deveria sair. Rasga um pedaço do papel onde anotou um frase que gostou, e escreve, uma outra para não deixar esquecer, pretende entregar no momento em que chegar á cidade. Na idade em que encontra-se faz desenhos de casas e flores, todas com um bonito sol estampado no lado esquerdo da folha. Aqueles olhinhos castanhos brilham quando lembra dos ideais mais felizes. É perto do meio dia e após tantas horas encenando palavras, chega ao destino final.
Pé esquerdo á frente, olhar para o céu encoberto, um respiro forte e uma prece necessária. Desce a rua com passos de certa forma ligeiros. Avista uma multidão de crianças, todas acabaram de sair da escola. No meio de tantos alunos percebeu quem seria o motivo desta sua vinda à cidade. Arco vermelho no cabelo, brincos pequenos e um sorriso capaz de iluminar o céu encoberto. De longe imaginou-se segurando aquelas pequenas e delicadas mãos. Lembrou da figura da sua mãe, o chamando entre os amigos na volta da escola. O máximo que atingiu foi passar ao seu lado e escutar o som doce sainte da fala. Sentiu-se bem, mas precisava mais. Aquilo somente não o satisfazia. Mas naquele momento foi seu único alento para creditar a felicidade de assistir sua filha na volta da escola.

Cidade periférica



[Avenida movimentadissima, 7 horas, personagem 1, vestida de guarda-pó branco com nome bordado no bolso á direita]

Atendente de fármacia da Avenida 25 de março. Sempre corre para conseguir pegar o último ônibus depois do corriqueiro café da manhã. Outro dia perdida entre as esquinas das duas Marechais, percebeu quanto a cidade cresceu. Velhinhas conversam, jogatinas embutidas, velhos malandros desfilam e algumas crianças fazem dos minutos antes da entrada na sala de aula, um verdadeiro recreio dissipado. Cumpre sua jornada de trabalho diariamente. Tem cargo de atendente e destaca-se pela familiaridade com os clientes. Sabe as mais diferentes histórias, certas vezes, enxerga-se na própria história. A última foi da mulher que não sabia mais controlar o ronco do marido. Preferia mantê-lo acordado com fantasias enciumadas sob a realidade. O alento do trabalho não oferecia oportunidade para conseguir ultrapassar a barreira daquele balcão branco gelo, cheio de remédios, tabelas de comprimidos e folders promocionais. Ali, comumente sempre encontrava uma mulher, ainda jovem, que sempre entrava na farmácia para pesar-se. Vai ver é uma pessoa entediada com o peso, apenas mais uma, pensou.

[Casa de esquina, na rua paralela á Avenida 25 de março, personagem 2, vive a vida diária durante as noites. Olhos costumadamentes pintados, lábios contornados e brincos de argola]

Não sabe o motivo do sumiço de mais um par de brincos. Desde que mudou-se para aquela pensão, além dos incomodos com os insetos, também começou a sofrer com a vida em meio a tanta gente diferente. Existe indiferença entre os moradores. A noite esticada na cama, tinha que usar seu fone de ouvido. Não conseguia dormir com os ruídos das camas barulhentas com hóspedes secretos. Outra manhã com os olhos cansados de artefatos mimados de algumas senhoras vizinhas, resolveu mudar o turno do trabalho. Foi trabalhar nas madrugadas da cidade. Aos poucos descobriu o quanto é superficial e vago a vida de ser namorada afastada. O dinheiro que entrava facilmente, era deixado no caixa da fármacia. Apegou-se á viver baseada em receitas de emagrecimento. Nunca conseguia viver mais de dois dias sem contar os trocados, sobras do trabalho.

[Fármacia, manhã, por volta das 10:12]

Entre um atendimento e outro sobrava tempo para percorrer as linhas do imaginário. Voltava-se para a vida simples. Pensava em ser diferente, quem sabe utilizar a experiência de atendente e ganhar uma independência financeira maior. O maior opositor da mudança era seu espírito pudico.

[Farmácia, hora do almoço, por volta do 12:30]

Cabelo desgrenhado, óculos escuros, a menina pesa-se mais uma vez, mas compra também um inibidor de apetite. Neste instante inaugura-se o imprevisto acanhado. Somente isto? Sim, aliás você sabe de algum remédio indicado para insônia? Insônia. Bem para insônia, temos ... Obrigado, não precisa mais. Apenas o inibidor. R$17:28.Na saida a menina desfila seu glamour estampado em um vestido tão casto. A cena desperta a libido da atendente em mudar sua vida, talvez, nos moldes da sua última cliente.

[Pensão, 12:53]

Olhando a cidade pela janela] Preciso mudar a minha vida! Acabei encontrando um bom exemplo. A atendente de farmácia é formidável, tem vida digna, trabalho valorizado e ainda dorme durante a noite. Enquanto o céu da cidade desprendia-se de mais um dia de sol as duas personagens percorriam destinos nada convicentes com seus ideais psicológicos. A noite chegava ao mesmo tempo, tanto na frente do espelho no banheiro da pensão, como no ponto congestinado do ônibus. O vestido agora é mais justo e colorido. E o sono ultrapassava a fronteira antes de mais um dia começar. Ao contrário a vida encarrega-se de realizar fatos.

Tragos em abraços pálidos


Alice não quer mais romances de bar. Nem receber beijos mofados de cartas escritas durante as tardes. Alice não pensa em se casar. Antes do filho nascer pretende formar-se. Habitualmente vive sua vida entre os desgarros da manhã com a sinfonia da noite. Na escola era conhecida como a menina que escondia livros. Anteriormente aos descasos do coração, sempre tinha a prática de empunhar livros pelos caminhos. Ainda menina corria rapidamente as duas quadras que separavam a escola de sua casa. Caminhava diretamente para seu quarto. Abria as cortinas para o sol primaveril adentrar e sentava-se no chão. Certa vez foi surpreendida pelo histérico barulho dos passos de sua mãe nas escadas. Mais rápida que o piscar dos seus olhinhos brilhantes, empurrou o livro para baixo da cama. A presença da mãe não desconcentrou a lépida Alice. Sua imaginação pairava no episódio do menino faminto perambulante pelas ruas de Roma. Genaro usava uma camisa vermelha pálida, calça tergal preta e sapatos desbotados. Usava uma das mãos para pedir algumas moedas para os turistas da Praça de São Pedro e na outra levava uma pequena rosa amassada. Em cada pétala o menino escrevia um pequeno poema de três palavras. O primeiro foi: buscou o amor ontem. Á partir do momento em que ficou a sós com a história de Genaro, disparou pelo tempo. A mania de esconder livros embaixo da cama, começou neste dia. Depois daquela primavera nunca mais permitou aos outros verem onde ela escondia o seus pensamentos . As vezes baixinho murmurava, livro de capa gelo, livro de capa gelo. Agora rodeada de insanidades e moléstias da vida pertecente á sociedade, preocupa-se com a convencionalidade da modernidade. Ainda procura encontrar motivos mais emocionais para fugir da visão pessimista do mundo, principalmente nos encontros. Alice não quer mais perder um minuto ao lado de gente sem conteúdo. Alice prefere deitar e ler um romance á contentar-se com a obscuridade e polivalência dos sentimentos vestidos de afetos. Os pensamentos despertados com os enredos das histórias aparecem também em outras páginas. Alforria ganhou no dia em que conseguiu pegar seu primeiro livro e esconder sob a cama. Ainda hoje quando desfilava seus sentidos sobre as linhas de mais algum livro, lembrou da figura clássica do menino Genaro e suas pétalas poéticas. Olhou pela janela e viu a figura de várias crianças brincando. Seus olhos fizeram apostas de quem teria o privilégio de esconder livros e descobrir um novo mundo. Sem muito a saber, viu uma mãe pegar sua filha pela mão. O instante pairou sobre várias frestas da vida. E ali confirmou-se quem teria a chance de ser uma nova Alice no futuro. Despertando sobre a tarde também o gosto de saudade das falas da sua mãe entre as suas leituras e estripulias imaginárias, além das páginas literárias.

Sobre saber muito, sei pouco



Sobre saber muito acho
sei pouco

Mas se saber demais é isso tudo prefiro rabiscar o futuro
vendo novela mastigando chicletes
marchando na sexta de aléluia

Se saber tudo é isso prefiro rir sozinho
imitar o caminho
sonhar comigo

Se saber tudo
é tudo prefiro esquecer do mundo
neste próximo segundo.

Versos mudos



Ri da vida como não tivesse acordo com a saudade
Mostra ao mundo como representar serenidade.
Lê para ouvidos calados
um pouco mais sobre a saudade da serenidade
que um dia sentiu dentro do peito.

Assim

"a sombra da cidade projeta-se de qualquer lado"

... não acredita ser apenas mais uma cena, como a vista, ontem no cinema. Um beijo, com trago de teatro, vislumbrante do retrato. Muitas já conhecerá, poucas interessou-se saber a verdadeira identidade, além dos falsos e enciumados beijos, alguns roubados, outros acalourados. Sempre perdido em dramas, anestésicos dos pensamentos corroídos na madrugada, preferiu ausentar o cigarrinho, depois de perceber, a solidão da fumaça, após desvincilhar-se do trago. Misturado aos embalos do vapor abafado, á escorrer barato pela janela, percebeu o quanto era dependente de sentir-se um retirante de sentimentos. Por mais próximo que as chances teimassem em demonstrar afinidades, escolhia os pormenores motivos, para evitar acreditar ser apenas uma comparacão sem muito sentido, naquilo que sempre acreditou ser a razão verdadeira do amor. Tarde, a manhã, já abria espaços para o sol aparecer. Resolveu sair pelas cantos sinceros, desocupados pela gente que inventava frases, para conseguir algo mais que simplesmente sorrir. Ao cruzar a primeira esquina, lembrou vagamente da cena vista, não a mesma do cinema, mas a da vida, que chegava sem fazer muito barulho, deixando frestas de pecado, vistas de qualquer lado.

Cigarro na mão esquerda

"Sentiu vontades nunca exploradas"


O itinerário parecia estar correto, sentado em um banco gélido, buscava conseguir desprezar o vento interesseiro em tentar atrapalhar o prazer de acender o seu cigarro de palha. Após riscar por algumas vezes o palito de fósforo, resolveu atender a vontade de libertar fogo. Não sorriu, nem mesmo mudou sua fisionomia, cansada, além dos anos de trabalho pesado em lavouras de café do norte do estado. O chapéu que usava, tinha um tom branco, mais amarelado na aba, por conta da fumaça instigante do seu cigarro. Entre um trago e outro, escutava uma mulher falante, talvez sua memória combalida pelas longas horas de exposição ao sol, não ofertassem saber ao certo quem era a mulher.banco já ocupado por mais gente e uma meia dúzia de sacolas, assistia á cena, talvez encenada, seria um grande retrato do teatro. Um velho aposentado com seu cigarro de palha, segurado entre os lábios centrais, escutando uma mulher que parecia falar com as mãos e, um menino, com dentes de leite, á brincar com algo que segurava entre os dedos anestesiados da espera entediante da rodoviária. Naquele ambiente de certa forma caótico, estreiavam sentimentos saudosos. O velho, não levantou-se, mas agora sabia quem era a mulher que gesticulava de forma exacerbada. Não fosse um pensamento distante da inércia daquele lugar, não iria reconhecer o encontro do passado, sonorizado pela felicidade, em sentir o presente com gosto de futuro em ter a filha mais nova por perto. O cigarro não findava, passou a mão calejada sobre a cabeça do menino sentado, ainda á brincar com as mãos, descobriu ser seu neto. O ônibus não chegou. A viajem atrasou. O que importava atrasar, quando os relógios estiveram parados por muitos pensamentos distantes da realidade.vida na cidade seguiu adiante, com alguns casais apaixonados á passear de mãos dadas e, outros verbos para serem conjugados.

Razões mais que sinceras

" Acredita como quem vive por viver"


Mulher de poucas palavras, sempre buscou prevalecer sobre casos e acasos que ao longo da vida superou, colecionando-se de fatos protuberantes à inocência dos sentimentos em sempre acreditar, por mais cínico que as cenas fossem em registrar encaixes de felicidade. Suas dúvidas normalmente pairavam no sentido analgésico da espera acomodada pelo o que seus olhos comumente enxergavam. Nunca preocupou-se com as manhãs do amanhã, permitindo ser cordial com as folhas rastejantes do vento de final de outono. Após acordar, revigorar fatos para encarar mais um dia, resolveu tomar um banho, inocente á água que delicadamente escorria pelo sua cabelo e contornava seu rosto, não poderia desconfiar dos golpes do destino em moldurar parte dos seus pensares mais emocionais. A razão estupenda da vontade em estar sempre de mãos dadas a uma harmoniosa apresentação de fatos recorrentes aos seus merecimentos, foi tema, alicerce da vocação em ultrapassar limites impostos caprichosamente pelo seu coração. Desconfia da vida, como fizesse a pergunta "vale a pena" querer conviver no mundo, cada dia mais distante da saudade em sentir um abraço feliz e natural. As poucas palavras agora são uma sinfonia nada singela de placas descoloridas saintes do céu de sua boca. Acende um cigarro, apenas alguins tragos, antes de digerir solidão recorrente. Fecha as janelas, corrompe cortinas amarelas, criando sensações de vislumbrar o sol á adentrar a sala de sua casa. Perde-se entre lençóis amassados da cama, prefere não arriscar tempo, desperdiçando argumentos. Derrepente o telefone toca. Após três toque insistentes, resolve atende-lo. Na outra linha uma amiga, mas daquelas que não importam-se com questões relevantes da vida, preferindo rir sem saber o motivo. A conversa é curta e estreita, não é preciso diálogo. Até mais. Até. Mal sabia que á partir daquela conversa quase monossilábica seus interesses mudariam, e não seria acaso, mas sim por acaso.

Além das canções da cidade


O silêncio foi mais que puramente aparente, não quis mostrar indícios naturais, optando por desejos mais escancarados que o sol penetrante pelas frestas da janela, contornantes do cabelo, amarrado mais acima do que o costumado. Talvez, nunca tivesse notado-a, mas á partir daquele espasmo de gratidão, disfarçadamente encontrou desejos que, amparados naqueles olhos castanhos brilhantes, formava junto aos resquícios de sol, uma moldura nada obscura da verdade apaixonada.
O empenho da obrigação servil, não conseguia inibir os pensamentos, na Rua dos Albergues, na altura do número 818, permetiu-se cheirar a manga da própria camisa, sentiu um aroma, resultante dos pormenores encantos, combalidos nas imagens mais discretas do sol sustentante da janela á refletir-se naquela menina, que certamente, já despertava o coração de um outro alguém.
Conflitada pelo convívio saturado com o namorado, ela preferiu mostrar-se indiferente e, saiu para entre retratos, confinada pelos vasos e cortinas de seu quarto se pôs á chorar. Muitas perguntas tentavam evidenciar o tempo em que a felicidade seria artigo vistoso naqueles olhinhos castanhos, agora os mesmos olhos eram amargurados da incerteza mais distante da estagnação em viver, sem entender o final, comumente o extra da tristeza natural de um relacionamento.
O paradoxo mostrava o quando as realidades distantes, são diferentes.Enclausurado nas tarefas do trabalho, não conseguia deixar de lado um único momento, fez perguntas, negando respostas, quem sabe, estivesse totalmente perdido, sem abrigo, em perigos de amores, perdidos em esquinas, comovidos pelo singelo, ou retrocesso das indiferenças aparentes, por mais atributos que possuisse, uma vida embriagada de adjetivos e beijos hostis, não complementavam mais sua satisfação em apenas viver á vida, consumindo fatos, que ao pensar teriam um gosto trágico.
A novela á distraia, colocava-se sonhando em frente á televisão, imaginava ser á atriz, sem a tristeza essencial.
Engraçado a vida não os apresentou formalmente, instintivamente ela imaginava encontrar um homem, que complementa-se com ele. Ao mesmo tempo o sujeito despistava a paixão avassaladora em mais um copo suado de bebida, embriagado pelos amores mal resolvidos.
Até quando a pluralidade da cidade vai permitir aos dois viver em distância, permanecendo em mundos distintos.

Embalos urbanos

Maria Clara sempre procurou não apenas satisfazer seus artefatos em retratar a vida em simples fatos, como os vendidos em classificados de bancas de jornais. Cansada dos acordos e modismos da sociedade, resolveu abdicar dos pudores, e resolveu não usar valores demasiados, quando tratar-se de assuntos conectados aos instintos mais permitidos, conjugados em sensações além de simples batimentos cardíacos.
Outrora, quando percorria as páginas de um romance, deparou-se com á vida de uma personagem, que ao primeiro instante causou-lhe repúdio, mas confortada pelos goles quentes do café preto, conseguiu entender o espírito e as justificativas para tentar ser mais fiel á vida. Após finalizada á leitura, voltou-se para suas pernas, á certo modo pálidas, acompanhantes de suas mãos brancas em contrastar com os belos e longos cabelos pretos. Debruçada sobre a janela, observará o mundo que passava rapidamente pelas avenidas da cidade, sem notar, que em uma outra janela, do outro lado da rua, escondia-se um senhor, não observante da avenida, mas sim dos requisitos logo abaixo ao pescoço de Maria Clara. Certamente mais um dos tantos homens, enferrujados pela vida promíscua, rastejante pelas escadas de tantas casas enciumadas de dissimular lares, onde o afeto resignado extrapola os limites de ver o mundo, entre as paredes do seu apartamento, apenas. A vida que corre ao longo das ruas, esquinas e calçadas da cidade, não imagina, ou mesmo acredita não imaginar, que encontros, limitados por pudores, são controversos á razões do coração. Maria Clara, já imagina, um afeto bem distante da libertinagem do último amanhecer, antes do sol colocar-se como espelho, de passos apressados em troca de sentimentos, que lacrados perderam sentidos, ganhando ouvidos do senhor vizinho. E, um dia imaginou-se no papel de mãe, mas ao pensar na possibilidade de assistir o passado vestindo o futuro, desistiu e continuar á apenas tripudiar seus momentos ímpares em grande partes das vezes.

Descobertas de sonhos inoperantes

"pedaços de solidão em liquidação"


E deitado ouvia apenas o som das gotas caintes na pia da cozinha, não precisava interromper os seus sonhos conturbados pelo barulho nada empírico. Quantas vezes deslocou-se em pensamentos alheios á sua própria vontade, casual foram momentos em que não soube explicar para a razão, todos os inúmeros motivos da sua vilependiação. O ouvido distraia-se com ruídos que agora eram mais que apenas gotas de água, talvez, fosse a fuga, a vontade viceral de provocar instintos fraternais, misturados com o monóxido nada saturado de pensamentos longiquos de serem abstratos. Ao lado da cama tinha um tapete, presente de seu pai, na última viajem pelo continente sulamaricano, ali estavam depositados muito mais que apenas lembranças de outono, tinha algo mais sério, além da materialização do presente, tinham complementos para sua vida, que trafegava sobre aqueles lençóis, até pouco tempo dormente. Era ausência, distância de si mesmo, lamento de luta, consciência de proliferar, mudar e, saber mudar, mais que puramente extrapolar conceitos bipolares de disfarces incontidos. Nem o sol permitia entrar pela janela, mesmo que já passasse da metade da manhã. Tudo levou a uma mudança, que mesmo interpretada não permite vácuo. Ao alcançar uma caneta, começou escrever sobre um papel que apoiou na sua própria perna. Ali começou a desenhar mais que simples traços da imaginação...

Fragmentos de história

... o diário está com um pedaço de folha rasgada, mas não é tragável que justamente no pedaço faltante, tenha ficado a anotação de um mundo diferente. Apressa a escolha da roupa para mais uma noite de festejos, enquanto ajeita o sapato, lembra dos recados que o senhor Renato, um homem mais sério, que sempre aconselhava sua filha mais nova. O tefefone toca, pensou até em não atende-lo, mas ficou preocupada em ser algo sério. Alô.Oi .A sua voz já doce, rasgou-se de tanta felicidade, sem lembrar do último contato, contentava-se com retratos, sempre caminhantes e ocupantes de visualizar fatos. A conversava pairava sobre possíveis chances de perceber a verdade, que maquiada foi equivocadamente usada em tantos outros encontros. No momento em que preparava-se para disparar mais uma variedade de palavras, foi interropida.Mais tarde ligo.Nem mesmo o silêncio ocupante da linha telefônica foi capaz de mudar o sorriso largo, que agora habitava o rosto da menina.A pressa não era mais precisa, depois de saber um pouco mais sobre aquela vida almejante e viajente, decidiu não sair. Ainda quem sabe, precisa rever filmes originais, onde sempre interpretou muito bem o lugar em que gosta de estar.

O inverno das cartas

" Somos mais que simples acordes de um tom só"

Costuma escrever cartas, mesmo que não tenha dinheiro para o selo, continua á escreve-las, ao certo não consome apenas desejos de transpo-las ao papel seus sentimentos mais dormentes, mas também gosta de escrever e contar histórias de gente ausente, mesmo em momentos em que dormir parece mais correto. Outro dia, perdeu-se no olhar que ultrapassou a janela, um pouco suada, pelo forte frio que habita á cidade e, foi estacionar seus olhinhos mais brilhantes sobre astros, não queria contar estrelas, por mais abusadas e exageradas que elas sejam, mas sim imaginar onde as nuvens dormem em noites de inverno. Ao certo, até onde sei, o relógio já marcava mais de 4:18, e ela ainda marcava forte os passos do seu olhar, que nem esmureciam do cansaço do dia passado e, do próximo que iria logo começar, ou melhor, recomeçar. Após passar á noite acordada, voltou-se á escrever, sobre como é descobrir motivos para sorrir. "Muito quem sabe, ou mesmo quem pouco diz ser feliz." Foi a frase que utilizou primeiramente após percorrer a noite triste da cidade. Já não sei, mas acredito que certos fragmentos, talvez literários, possam contar, mover outros personagens em outras histórias. " Próximo ao acalanto da morada do coração , caminhante da razão em ser perfeito o momento em que fui mais feliz brevemente ao teu lado. Obrigado a ilusão, não é doce, mas saboreia a vida e lambuza o futuro". Ao deparar-me com estes escritos, constato que a noite em vigiou o céu, a fez mudar, talvez certo dia, consigamos nos encontrar, mesmo que em páginas coloridas de algum livro.

Tardes glaciais

"A página rasgada do livro traz as palavras que irei usar para acordar meu outro eu"

Quais tardes são mais lembradas, quando o céu recomeça na paisagem de um nobre retrato? Quais motivos são suficientes para acreditar ser diferente? A realidade parece ser igual a todos os momentos em que as cortinas do espetaculo insinuadas entre o desfile em abrir, ou resumida para ficar fechada. O acalanto traz estrelas, bandeiras, músicas, cartas, rascunhos e imposições, mesmo as mais felizes. Quando fácil será fácil e difícil não será difícil? As perguntas espalhadas em todos os lados, espalham-se nas fronteiras mais consistentes das possíveis respostas. Depois de muito caminhar, ainda de certa forma cansado, procurou encontrar um canto onde poderia descansar, preocupado com as andanças seguintes, recusou os sonhos, onde o futuro, seria apenas mais um estágio deste presente combalido, entre tantos opostos. Mesmo contrário aos sonhos, não conseguiu evitar o sono, e ali, começou a desenhar a entrada para o mundo, não o coloquial, mas sim o mágico, onde fatos são sonhos, em substrato real. A apresentação do mundo foi para deixar claro o coração e remontar condições para mostrar sonhos reais e adquiridos ao longo da grande avenida, onde os passos seguem incertos, mas também procuram estarem certos que nada é acaso, quando a vida não é um mero caso de consentimento de um certo estado feliz. As tardes não lembradas ficarem restritas á retratos. E agora volta andar para não perder mais tempo com sentimentos distantes próximos dos outros, que algumas vezes são ele próprio em espelhos e, certos momentos. Ainda vai escrever sobre como é estar assim, querendo estar só, deitado sobre o céu azizentado da cidade.

Verdades soltas

"Quando os versos são realidades é complicado ser entendido"


A ida não poderia ser considerada melhor, poucas vezes sentiu-se conjugada com a sobriedade enciumada frente a própria personalidade, além da maquiagem apresentada ao espelho.As condições deixavam ser uma espécie de sinceridade acalourada, presente no lustre do olhar exarcebado. Ao sair na rua, sentiu um enorme vazio na razão do coração, originando um contraste nada interessado em somar certezas dispostas naquele "eu" angariado de felicidade.Não sabia enganar a sensação que chegou sem permissão, mas aquele sorriso, era esnobe demais e sinceramente não precisaria esconder a dualidade estampada nas certezas vivenciadas, mesmo que apresentadas em um mundo pluralizado.O convívio com todas as novidades era na verdade mais uma condição para deixar a saudade esquecida para as noites de televisão e céu empoeirado. Ao conhecimento dos lugares, percebeu as pessoas e, assim começou a vigiar mais uma fatia de mundo, sentindo-se mais forte, preferiu o silêncio.A volta não foi muito diferente da ida, mas já sabe qual caminho seguir para não desperdiçar a oportunidade em mudar e não preocupar-se em apenas agradar.Naquela noite, ela descobriu, mais algumas razões para estampar no peito, algo além do coração.

Nada seria o mesmo sem as cores

O ponto
traz a chance
da frase
passar mais um aniversário
em tom azul anil

A exclamação
seria o sinal
na pergunta
silenciada
que exige resposta cadenciada

Uma vírgula
além de pausar a leitura
também separa a ternura
entre
amar, viver, sonhar

As palavras
combinadas de sensação
denominam um coração
permitindo o título
ser apenas um gerúndio enclausurado
no meio de tantas tardes distantes da linguagem

A interrogação
seria apenas um sinal
ao contrário
investindo perguntas
que não merecem respostas
mesmo formados em sentido horário

Cenas além do cinema



A distância do afeto almeja a tranquilidade em lutar consciente na modernidade dos sentimentos. Após muitas insistencias em tentar desbravar os labirintos, pouco equacionados das paixões, decidiu cultivar o movimento do mundo, além dos olhares flutuantes, entre planejado e inesperado.Após a ida ao cinema, ficou a se perguntar, o valor real dos sentimentos além da tela e do aroma da pipoca amanteigada a premia-la. Tudo passa pelo beijos estalados do casal de namorados e recaí sobre a dúvida da legenda, que um tanto tremida, permitiu um quase artigo exilado de palavras e frases mal terminadas.cansaço não permite deixar a televisão deligada, e logo aparecerá aquela propaganda que de tantas prestações, poderia ofertar também corações, para serem arrematados em sentimentos condizentes com as situações. Quando o sorriso é domesticado a ser apenas uma distração da emoção, fica a pergunta sobre o ensaio que muitas tardes não permitem, apenas lembram a saudade do tempo em momentos fragmentados.Aquilo tudo que faz força para esquecer, prefere ainda lembrar e deixar o inesperado premiar.

Logo, tudo será apenas um passado

A cidade é apenas uma placa na entrada e muita gente apenas em retrato"

Enquanto caminhava a rua buscava mostrar o quanto era preciso correr e não precisar descrever a surrealidade subjetiva das muitas formas em permitir as vozes cadenciadas dos passos, serem apenas mais alguns distraídos e muitos outros apenas ouvintes, podendo serem equivocados. Nesta rotina silenciada, repleta de saudade, faz valer o sentido, além das placas de sinalização. E já ouve o coração sem razão de amar e creditar mudar.

Verbos significativos

"Multiplicar opostos e somar contrapontos"

A inquietude não a permite sonhar, somente imagina passos largos e rúbricas afirmativas em buscar acalanto nas estrelas, enquanto o silêncio encontra na chuva uma trilha nada musical de carnaval. Quais esperanças seriam mais espaçosas que um simples abraçar do coração, quando a parte mais interessante, não mostra nem mesmo seu próprio pesar.Ao entrar em outro mundo, seria uma maneira de entender o próprio mundo de quem espera resposta, imaginando exata, mesmo quando o gosto, confunde com um retrato, na distância chamada de saudade.Ainda quer acreditar no sentidos mais presentes, mesmo eles parecendo dormentes em tantos modos e jeitos, confundindo a manhã com apenas alguns minutos da tarde, e não sabe mais que horas sonhar.Os sorrisos escondidos, não maltratados, esperam uma chance de deixar a inquietude ser apenas mais uma maneira de não esquecer, tudo aquilo que um dia prometeu ser especial, mesmo quando porta um pequeno coração retangular.

O futuro passado é idiota



É. Nada é igual a nada, ninguém igual a ninguém, alguém distante de alguém, todos dizem amém.
Seria simples, não fosse confuso, seria bonito, não fosse o espelho. Aconteceria não fosse a falta de tempo, melhoraria caso tivesse chance. Seduziria com flores, caso ganhasse para isso. Roubaria beijos e esconderia o silêncio, caso convidado estivesse além dos versos em beijos.
Ouviria boa música, não fosse a modernidade musical, leria um bom livro, não fosse apenas os conhecidos estarem empilhados, alguns empoeirados nas livrarias. Seria fácil.
Não teria sentido em acontecer traduzir pensamentos em fatos. Mais sábio e menos rebelde que deixar o fracaso tomar conta da gente.
É nada é igual. Tudo muda.A menina inocente casou. O vestido longo encurtou. A noite meiga entregou os pudores. A canção mudou um pouco a forma e ultimamente mesmo incendiada de glamour intempestivo ainda canta versos assim:"Um coração que segure, não leve embora, agora a chance de viver a liberdade, junto a felicidade com vontade ".

Palavras avulsas

Pediu mudanças
Mas, esqueceu de mudar-se.
E, agora procura encontra-se.
Talvez em outro lugar.

Ela apenas faz mudar, contenta-se com os livros encostados na sala de estar. Acredita e também omite o quando gosta de acordar tarde e ver filmes de suspense, mesmo quando recebe convite para estar em contato com pessoas novas. Há algum tempo, resolveu olhar no espelho e vislumbrar a contramão dos defeitos todo adoçados de efeitos, confessando os colaterais serem mais fortes e audaciosos, enquanto uma parcela de solidão a faz bem.É, quando respostas, são apenas respostas, perguntas tornam-se informais e, apenas o olhar traduz, já querendo dizer algo, uma fina textura de retrato feliz ao lado. A exibição para as nuvens acostumadas a passear, sobre encantos e nostalgias futuras, chega a ser uma solene canção do destino em forma de unção no verão. Quando lembra-se chegou a hora de voltar encontrar as páginas repletas de calma, daquele livro - Páginas Brancas do Amor.A noite finda, um belo dia de sol, começa movimentar as telhas, um acalanto com gosto de saudade. O corpo esguio com a bolsa a tira colo, fotos 3x4, cartas e documentos. Um dia a mais na vida da menina, mais uma certeza da mudança, mesmo o futuro passando atrasado.O tempo é superficial, quando ela encontra-se sem igual explicação, na ótica contrária ao coração.

Desenhos de gibis coloridos



"Cedo demais para achar nada demais"

O silêncio perdeu-se entre os confortos da cidade, aliás o teatro retrata em cenas o silencioso sorriso das fotos, mesmo tristes ou apaixonadas. A propaganda traz felicidade, distribuida em cupons com descontos em algumas gramas do tempo conflitado e sintetizao céu escurecido na alta porcetagem de insulfilme nas lentes dos óculos caminhantes.A segurança do mundo é sentimento para o coração não desesperar-se quando perceber as lágrimas que escorregam no rosto em perceber a normalidade dos paradoxos sentimentais andarem paralelos a toda fragilidade e encantamento da vida.As placas nas esquinas influenciam os passos das pessoas que vêem no imaginário uma saída para levar ao encontro do mundo que nãao leva ponto final.Os ruídos da rádio mal equalizada não desfaz o segredo em perceber belas composições em rocks de uma nota só e faz dançar a mais intima timidez.A ilusão não mistura-se com o sonho, livre sonha em saber formar as imperfeições da cidade um pouco melhores vistas quando aproximadas a simplicidade de encontrar estrelas em noites nubladas.

Sonhos de travesseiros

E, houve a aproximação no passado rasgado na calçada em recortes de jornais com páginas amareladas. Fingimento distraído encontrou-se nas voltas circulares do vento em contraste com o rosto pálido em busca de voltar ao encontro da chance em sensibilizar-se nos espaços provocados pela saudade.A ideologia sentimetal dos versos ofuscados nas apresentações dos capítulos em novelas faz existir duas chances para existir ainda mais próximos do querer. Primeiro é seguir a contagem das estrelas apressadas em logo enganar o sol e aparecer. Segundo é perceber as cenas ensaiadas e sentir a vibração da vida muito mais grata ao vivo.O silêncio do mundo não é mais o mesmo, encobre o coração em ritmo acelerado como fosse um vento forte em final de tarde na primavera. Encontra respostas em todos os cartazes pedintes nas esquinas da cidade, faz melodias e versos em retratos encenados da realidade entristecida em não aceitar a felicidade proposta em existir e estar próximo da perfeição.Encara as paredes vestindo armaduras para caminhar no centro exato da procura incabada, transparecendo sentidos escritos pelo coração. Os lados todos levam ao encontro da realidade com um momento futuro no presente.E as frases já encontraram espaços para escrever o teu nome além dos sonhos consumidos sobre travesseiros.

Tudo bem, tudo novo

Não exita em perguntar onde pretente chegar com todas as histórias ocasionais provocadas pelo lado b das vontades emolduradas da santa tarde madrugada.Vai procurar a gaveta com papéis rasgados da saudade, época de dias não muito agradaveis em decorrência das cortinas fechadas e um rosto molhado. Tempo que nem mesmo o sol ou qualquer bobagem eram suficientes para mudar os sentidos.O encarte dos velhos discos comprados em algum sebo ainda tinham identificações dos dedos molhados de suor naquela tarde quente e tudo voltou para lembranças não apagadas e domesticadas de eternidades.A porta fechou, trouxe vento superficial, indagou respostas e suspeitou do passado corroído em planejar perfeitos sintomas de aprezos celestiais felizes.Tudo bem. Nada de novo. Diferente. Nada ausente. Vida contente.Aproveita-se da vida em apresentar motivos suficientes para voltar sorrir e mudar o pequeno forte coração.Agradece, um tanto timidamente.Faz do momento uma cena perfeita sem ensaio para não distrair e sim conviver com a feliz saudade.

Ócio do hiato

Sempre persistiu nos sonhos, mas encontrou muitas desconfianças dos próprios anceios e preferiu apenas perceber a condição em que a vida espia a serenidade em deixar mais uma tarde passar e tocar seu infinito universo.A vida seria trilha sonora ou teria trilha sonora? Uma pergunta afirmada e musicada nas sensações verdadeiras do querer buscar flores no céu límpido encoberto pelo cinza da cidade. Poucas vezes prestou atenção nas ondas equalizadas da rádio, mas ao encontrar-se com uma outra metade do próprio sorriso fez do acaso uma maneira para dar as mãos á felicidade.Na janela observa as pessoas que caminham apressadas nas ruas sinuosas da cidade e sente a melodia do amanhã com gosto sonhador de perfeito em um mundo conveniente e incoveniente.O verão traz o cheiro da primavera nos corações.É 28 de dezembro na vida apressada na cidade.

Angústia venerada

Sufocante angústia
maltrata o peito
repleto de sentimentos
sem defeitos

Sufocante angústia
veste-se
vai a luta
condecora a razão
estupefata do coração

Sufocante angústia
mostra a cara
rasga a página da frase sublinhada
sobre o enúnciado escrito no pacote de papel pão

Sufocante angústia
preza os minutos
corta o silêncio
viaja
não volta atrás do desejo
emoldurado momentâneo

Sufocante angústia
permita ser um único sentido
para sempre esquecido
no anceio do peito com respeito

Sufocante angústia
lembra teu nome
soletra o sobrenome
respira e vai além

Sufocante angústia
não merece depois
singular momento plural da vida

Sufocante angústia
sem prestações de sentimentos quase nada doentes

Sufocante angústia
cale-se

Hoje.


O desfile existencial do tímido na multidão

As serenatas sinfônicas da cidade perseguem até os mais intimos pensamentos dos tímidos. Ao andar rápido e atravessar a rua distante da faixa de pedestres revela-se que muitos tímidos se incomodam com as famigeradas buzinas. Pode ser uma buzinada que o faça voltar a participar da realidade e assim deixe os pensamentos e idéias reclusos á momentos anteriores de longas conversas consigo mesmo. Mas tem vários exemplos de tímidos que ao escutarem uma buzina sorriem em direção ao carro. Sim. Porém, um irônico sorriso com conotação de “obrigado” sou atraente e ainda mostro os dentes. A timidez anda descaradamente pelas ruas nos atropelos das caminhadas rumo aos destinos. Algumas vezes o tímido mostra a pureza ao recusar a felicidade fácil do encontro em contrapartida com outro olhar. Entender o motivo pelo qual os tímidos olham para o chão ou assistem o céu é tarefa para eles apenas, afinal todos aqueles que sabem a diferença em ser reservado á exposição de perambular entre tantas pessoas diferentes de índoles. Muitas vezes todas as buzinas colocam as vestes da primeira vez na vida passar despercebido em meio a grande multidão. Ao cruzar as Marechais sente apenas a poluição que ameaça um espirro, porém disfarça e consegue seguir o caminho na tranquilidade de voltar a acreditar nas histórias de suas vontades.

Monólogo do telefonema silencioso


O telefone insiste em tocar, em plena 3 horas, da manhã. Ainda com voz adormecida, fala:

- Alô.Silêncio.Total desanimado, pensa em desligar, mas prefere arriscar, mais uma vez um sinal.

- Alô.
Sente uma prece de respiração e antes de soltar alguma mais palavra a ligação caí.
Voltou para a cama, o sono agora parece estar com má vontade de permanecer e seus pensamentos atrasados, começam a ganhar forma, ao lado do lençol entrelaçado em suas pernas.Ficou a dúvida. Ganhou a solução. Um silêncio por um momento, serviu de lição, para aproveitar e pensar na vida inconstante.
Mas ao virar-se no travesseiro, sentiu uma leve sensação de desprezo de momentos em que esteve ao lado das flores e não soube ver flores. Ouviu uma canção ecoada em versos soltos e conseguiu voltar dormir.
Sonhos, realidades, alquimias e felicidade, talvez vistas no encontro do despertador com a cara do dia.
Agora, segunda-feira ...

Perfume estacionado no ar

saudade não é palavra
é um pedaço da vida
infinito distante
em corações apaixonados

Pingos de esperança habitam o chão da cidade no verão, entre árvores e mónoxido de carbono as pessoas andam para chegar até a estação e poder seguir em linha retílinea para finalizar á última terça-feira do ano.Capaz é tudo ser normal distante de qualquer modelo já desenhado em qualquer época, usado pela vida em mostrar virtudes e imperfeições moderadas em retratos 3x4.As tardes mais pesadas trazidas pelos últimos dias do ano nos colocam frente á frente com espelhos de vaidades e tiranias jogadas em palavras no vento do verão.Que canções perdidasNestes diasContamA história em palavras de um futuro belo, ali na próxima segunda-feira. Em tudo que existe silêncio é uma maneira de apenas mostrar o teu sorriso, a canção mais bonita do mundo.Mais feliz não importa, quando a procura entende-se com a felicidade.

Sobre a chuva repousam os dissabores do esperado

Silêncio. Pingos escorrem. Silêncio. Atenta para abrir as cortinas e percebe a chuva forte a desaguar com planos para noite. Antes mesmo de desistir resolve conversar intimamente com as idéias e acaba justificando o não querer, mesmo querendo. As janelas permanecem fechadas e mais embasadas em favor da chuva insistente que traz desabrigo para muitos e abrigo sugestivo para outros poucos contentes com a chance de poder satisfazer a vontade e quem sabe encontrar até a meia noite alguém com sorriso não ocasional. A chave escondida embaixo do tapete sugere alquimias entrelaçadas com acasos da realidade nos quais todos os prisioneiros entre as casas despistam a ansiedade e escrevem no vidro algo com saudade. Onde você está? Pergunta o verso da linda música presente para elucidar as chances da noite chuvosa, na qual somente guardas-chuvas não resolveriam praticamente nada. Tudo normal em conversas formais com as paredes já cansadas após tantas coisas mostradas e demonstradas. O telefone acostumou-se a não tocar, apenas de vez em quando algum engano resolve chamar. Sem muito á fazer resolve voltar para a janela e perceber a noite chuvosa á colorir a cidade de gente escondida sobre toda a variedade dos guardas-chuvas e sombrinhas. Descobre não conseguir achar adjetivos para classificar o momento e apenas tenta mudar os pensamentos e escolher um ambiente aonde possa encontrar-se e muito talvez voltar acreditar em noites com céu carregado da água com recordações suficientes para não ter medo de usar guarda-chuvas e conversar até o dia amanhecer mesmo estando sem aviso prévio consignado.

Felicidade sem nariz pintado

Após estar ausente por alguns dias, novamente voltou, agora tranquilo e refém dos medicamentos, porém contente com mais um sentimento no peito. Descobriu o valor atento e agora promete viver em paz, sem julgar ou prometer o futuro incerto, mais distante das certezas fingidas de ser.Noticiado ficou ao saber da discussão e nada pode realizar em favor da solução tomada, face aos fatos nada caricatos da realidade quase bastarda, da escuridão dependente das estrelas.Voltou, diz agora acreditar e viver para sonhar e não sonhar para viver e assim a dança da lira dos anjos voltou a coordenar a vida regida pela ausência do maestro.

Escutar um sentido para amar

"As frases de amor, surtem efeitos em sentido introvertido do coração "

A menina bonita sempre resiste ao tentador pecado, quase santo, tanto ovacionado em caminhar sem a presença fustigante de alguém a percebe-la. O céu domina a altura, onde pode assegurar a passagem comunal especial da menina vestida naquele vestido, nada fino, mas determinante para sobresair-se em dias ensolarados e chamar atenção dos céus nada misericordiosos.Tudo apenas encena uma melodia, onde vai colocar o rosto e sonhar com a idéia de conseguir viver sem precisar nada dizer, apenas talvez decorar a sequência comum da vida. O antes, agora depois, mostra como não precisar em noites ficar só e trocar confidencias com o espelho embaçado do banheiro.As ruas pergutam o nome, mas a menina bonita prefere continuar sem nada falar, pois pretende encontrar um motivo natural que a faça sorrir sem precisar de favor e juramento e procura ser feliz.Ao olhar o céu, logo percebe a lua e ali faz uma prece comunal e logo percebe que encontra um número e deixará talvez de ser ímpar. Hoje, prefere apenas sonhar e depois acordar e quem sabe mostrar com quantos dedos consegue contar o próximo algarismo par.Menina bonita, um par de chinelos, esmalte seco e vento no cabelo.Assim tu consegue disfarçar o tempo e mostrar saudade do tempo em que apenas era uma menina. Escondia o talento para ser nada menos que apenas uma menina bonita á viver pela simplicidade do encanto presente em versos e canções.