domingo, 20 de fevereiro de 2011

A realidade ou memória afetiva do teatro


Personagens:

Uma mulher

Uma senhora

Cenário: um elevador.

Ato único

Mulher - Lembrar. Uma reminiscência da memória. Chegando com a generosidade e a velocidade do presente.

Elevador para. (entra a senhora)

Senhora - Licença. Você pode apertar o décimo andar, filha?

Mulher - Claro. / Estar de volta a casa, nem sempre recebida por alguém, será um defeito ou uma vulgaridade familiar? Eis, não sabiamente seria um acaso, mas caso da realidade. Lembrar. Lembrar. Lembrar ...

Senhora - Filha, estás bem?

Mulher - Sim.

Senhora - Esquisito escutar essa sua fala.

Mulher - Tudo pode.

Senhora - Como?

Mulher - Minha senhora, tudo pode.

Senhora - Como demora este elevador.

Mulher - Três semanas. Nestes vinte e um dias você não lembrou. Não sente falta das cartas e dos momentos em silêncio na sala?

Senhora - Filha, você me assusta.

Mulher - Minha mãe sempre me disse isso.

Senhora - Faz tempo que não vê sua mãe?

Mulher - Umas semanas.

Senhora - Perdi a minha faz muitos anos.

Mulher - Também.

Senhora - Como isso? Acabou de dizer que faz algumas semanas.

Mulher - Minha senhora .... (saudando)

Senhora - Que?

Mulher - A eternidade é uma casca da vida. Derrepente um andar. No entra e sai a vida desfila. Sobe para mais perto do céu ou desce para a loucura das ruas.

Senhora - Você é louca.

Mulher - Sempre tem alguma revolta e acostumei-me escutar que sou louca. Aliás, quantas loucas o mundo já criou?

Senhora - Assim não tem jeito. Vou descer.

Mulher - Vai enfrentar a cidade grande?

Senhora - Enfrento a cidade grande há muitos anos. Quando cheguei imaginava o espaço mais feliz do mundo. Mas tudo mudou. Somente as placas de ruas ainda conservam os mesmos nomes.

Mulher - Verdade.

Senhora - Tenho 70 anos.

Mulher - 40.

Senhora – Ainda tem sangue quente.

Mulher - Nem tanto.

Senhora- Filha, claro que sim.

Mulher – Quarentona e sem esposo.

Senhora - Filhos?

Mulher - Não.

Senhora - Você não é a louca que parecia ser.

Mulher - Filhos são heranças eternas.

Senhora - Tenho três.

Mulher - Minha mãe também.

Senhora - As duas meninas são casadas e tem filhos. Já meu filho homem nunca quis casar.

Mulher - Viu. Não somos exclusivos. O mundo está cheio de gente assim.

Senhora - Afinal, sua mãe é viva?

Mulher - Temos muitos sonhos. Logo, percebemos que a importância com alguém pode desaparecer em algumas conversas.

(Elevador chega ao décimo andar)

SenhoraAté mais. Conversamos.

MulherMamãe tem netos. (grita com a porta fechada).

FIM

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