O despertador de tic-tac do relógio de corda da tia avó findou o silêncio na casa. Nem mesmo o sorrateiro galo progenitor do galinheiro da família se livrou do tilintar do metal sucumbindo pelo ponteiro de chumbo. Abrindo o bico engasgou em um cacarejar que contradizia a modernidade. Os postes ainda laranjados no incandescente sofriam com a claridade e os primeiros raios de sol. Ao colidir a cabeça com o vaso da samambaia, ficou perplexa com as pontas secas e ali penduradas, como fossem troféus de quem as esqueceu. No tanque encheu de água um pequeno bule com o gargalo amassado, e deixou pingar - gota a gota do líquido que escorria do alumínio e deslizava na cera até formar a mácula de gordura. Regando as samambaias, tinha uma oratória que aprendeu na terapia de casais – e tratava de interpretar o papel do homem, esculachando a folhagem puxando orgasticamente as folhas secas.
Ajoelhou-se com um pano nas mãos e começou a esfregar as máculas que há pouco tinha sido depositada ali. No tempo de casada jamais precisou se ajoelhar naquelas condições – fazendo a sentir o gosto de voltar para o apartamento de dois quartos na região central da cidade. Sorrateira foi até a janela fitar o galo de penas rubras – que não cacarejava mais.
Um comentário:
Escreves com ritmo ... é raro, gostei!
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