sábado, 12 de abril de 2008

Costas cansadas

A cena

a calçada gelada
permite a famigerada
costela fria e doente
castigada das noites
mal dormidas


A cidade

as luzes refletem
imóveis sombras do calçamento
as pedras misturadas
na coloração preto e branco
moldam o reflexo
das vitrines perdidas
entre tantas desgraças


Os homens do outro lado da rua

espiam com sordidez
a serventia da vida
naquela noite fria
onde os sonhos
são tentativas nulas



O corpo

deitado o homem
parece um retrato
sem cor ou forma
sem cheiro ou gosto
de um prazeroso
prato de feijão



Algumas horas depois - Cena II

a calçada mais gelada
nua do silêncio da madrugada
é o purgatório
da deteriorada história


O Homem

o prazer simples
é sentir o gosto
de um mísero prato de feijão
e acordar