A cena
a calçada gelada
permite a famigerada
costela fria e doente
castigada das noites
mal dormidas
A cidade
as luzes refletem
imóveis sombras do calçamento
as pedras misturadas
na coloração preto e branco
moldam o reflexo
das vitrines perdidas
entre tantas desgraças
Os homens do outro lado da rua
espiam com sordidez
a serventia da vida
naquela noite fria
onde os sonhos
são tentativas nulas
O corpo
deitado o homem
parece um retrato
sem cor ou forma
sem cheiro ou gosto
de um prazeroso
prato de feijão
Algumas horas depois - Cena II
a calçada mais gelada
nua do silêncio da madrugada
é o purgatório
da deteriorada história
O Homem
o prazer simples
é sentir o gosto
de um mísero prato de feijão
e acordar