Perdeu-se no que iria dizer. Não é tarde. Cedo os carros passavam. A cidade não dormia. Sirenes e gritos da porta da igreja. Dois pedintes, exigindo complemento para a passagem do ônibus. Surdos não estávamos, mas carentes de opinião, iguais aos ratos escondidos nas tampas dos bueiros sem ter o que falar quando percebem um belo par de pernas feminino.
Televisão, notícias do final de semana. Tudo culpa do tempo, os mesmos horários, a mesma voz dos apresentadores, até os gols da rodada, previsibilidade de uma época igual, mesmo com insistências diferentes.
O silêncio da rua. Nenhum bêbado para esbravejar contra o começo da semana, pouco do inverno, que tantas vezes maltrata - agora descansa, rotina não respeitada pelos populares. "O poema não diz, o que a coisa é, mas diz outra coisa, que a coisa quer ser" - o conto não é feliz, mas falta do que fazer.
"Muitas Vozes", Ferreira Gullar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário