domingo, 1 de julho de 2012

A felicidade não é um dever, mas falta do que fazer

Perdeu-se no que iria dizer. Não é tarde. Cedo os carros passavam. A cidade não dormia. Sirenes e gritos da porta da igreja. Dois pedintes, exigindo complemento para a passagem do ônibus. Surdos não estávamos, mas carentes de opinião, iguais aos ratos escondidos nas tampas dos bueiros sem ter o que falar quando percebem um belo par de pernas feminino. 
Televisão, notícias do final de semana. Tudo culpa do tempo, os mesmos horários, a mesma voz dos apresentadores, até os gols da rodada, previsibilidade de uma época igual, mesmo com insistências diferentes. 
O silêncio da rua. Nenhum bêbado para esbravejar contra o começo da semana, pouco do inverno, que tantas vezes maltrata - agora descansa, rotina não respeitada pelos populares. "O poema não diz, o que a coisa é, mas diz outra coisa, que a coisa quer ser" - o conto não é feliz, mas falta do que fazer. 

"Muitas Vozes", Ferreira Gullar. 

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