segunda-feira, 28 de março de 2011
Calcanhar de Aquiles
Bateram na porta. Toda noite batem na porta. Batidas secas e seguidas. Batem na porta por puro impulso. O seu sonho de bailarina no municipal, cedeu espaço para uma aposentadoria refém da pensão do esposo. Convive com dois gatos sem raça definidas, adquiridos em uma feira de doação aos sabádos nas imediações da praça do governo. O som do televisor é das narrativas do Canal 100. A bola pelo gramado do Maracanã, escrete canarinho decidindo a Copa de 50. Na imagem incolor e nas interferências dos anos, apenas o peso dos olhos com Barbosa em prantos. Batem na porta, dessa vez convidam para um café.
quinta-feira, 10 de março de 2011
Antes de chegar as seis
Despediram-se sabendo que o acordo selado teria tudo para dar certo. Sonolento pela falta do cafezinho tradicional da manhã, passou os olhos sobre os cadernos do jornal antes da chegada do primeiro cliente. Dois toques no telefone depois, entrou pela sala a secretária com a informação que o cliente se atrasaria. Parece que o voo precisou arremeter – emendou ela.
Pelos anúncios vistos pela janela do oitavo andar percebia o quanto a cidade estava avermelhada de números e nomes tradicionais, por mais beira que hoje tenha gravado nos seus cartões, passou fome na capital, tomar um ovo quente pela manhã muitas vezes foi o gosto das canelas suadas nas vendas pelos bairros.
Novamente o telefone, dessa vez era a certeza da confirmação do negócio. Poucos segundos depois a secretária pedia desesperadamente para eu ligar a televisão no canal 12. Não adiantava baile de máscaras sempre enganam a gente, pensava.
- Senhor, coloca no 12. Mais uma vez ela insistia.
Triste por perceber que nada foi certo, muito menos o acordo ou a despedida. Pedi para a secretária encomendar uma coroa de flores em nome do escritório.
Com o baile de máscaras continuei olhando pelo alto a cidade.