Acordando, levemente descobriu os pés, deixando o tornozelo branco desnudo. Os pigarros do vigilante ainda denunciavam os cigarros da última noite na portaria. Com os olhos enfurnados no travesseiro contava mentalmente números - estes tinham sequência de progredir sem querer saber a hora do final. Ainda que os vizinhos já tivessem acordados - o marido desconcentrado nas notícias sobre economia no jornal e bicudo com a roupa escolhida pela esposa para levar as crianças para a escola. Na janela debaixo um pequeno canário cantarolava e soltava penas que lentas pairavam sobre o seu tapete do quarto. Ainda pouco alguém dizia coisas que não eram para os outros escutarem. As pequenas lembranças são o que levamos de mais importante dos dias - disse o vigilante para as crianças que saiam com a mãe para a escola.
Espreitando as sombrancelhas com o leve entorce dos ombros sentiu a friagem enturgecer seu tornozelo. A arte de viver está no dia que começa sem a gente para olhar - silabou puxando um pouco mais o edredon.
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